Os Professores Não – Especialistas e o Ensino da Música na Educação Infantil

Resumo

A música foi criada a tempos remotos e desde então sofreu diversas modificações culturais e sociais, afetando o ser humano em suas emoções e sentimentos. Este trabalho objetiva analisar teoricamente como o professor não especializado pode vir a proporcionar os benefícios da música para o desenvolvimento infantil, visto que a música enquanto utilizada como meio auxiliador de ensino, contribui para o desenvolvimento e para a aprendizagem da criança. Considerando as caracterizas que a música possui, ela se torna excelente elemento para o processo de ensino e aprendizagem, contudo o docente necessita estar preparado e instruído para utilizar esses elementos de forma que abranja todos seus aspectos e qualidades, visando sempre a construção de um ambiente educativo e atrativo para os alunos da educação infantil, tornando a criança mais interessada e motivada no âmbito escolar, formando assim cidadãos críticos e pensantes na sociedade. Visto os professores, em sua grande maioria, não serem especializados no tocante ao ensino de música e suas particularidades, espera-se ao final deste estudo poder vir a contribuir de forma positiva, para que os mesmos entendam o quão importante é a busca por uma melhor qualificação, dentro de formações continuadas.

 

Palavras-chave:Analisar; Aprendizagem; Música; Professor; Qualificação.

 

 Introdução

É de conhecimento que a música consiste em expressão artística e dependendo de cada região do país, cidade e bairro, expressa um movimento e uma linguagem diversificada. Ela está presente desde quando o bebê está no ventre da sua mãe, a batida do coração e os demais sons emitidos no funcionamento do nosso corpo já fazem com que a criança tenha um contato sonoro, dizem alguns autores como Brito (2003), quando a mãe canta para o bebê estimula também a criança, sendo que este contato com o som da música irá percorrer toda sua infância.

Constata-se que a música existe desde o tempo mais remoto, existem estudos que apontam que as músicas no Brasil já eram utilizadas na educação dos jesuítas, na catequese, bem como as demais artes. De acordo com Beyer (apud LOUREIRO, 2007, p.43), os jesuítas “[…] trouxeram ao elemento indígena um repertório vigente naquela época na Europa. Ou seja, os jesuítas educaram os indígenas musicalmente, para o desempenho musical destes nas missas”.

Ao brincar, a criança expressa o seu lado musical, por meio de emissão de sons e cantigas colocando todo o seu sentimento, este contato acontece bem antes da alfabetização. Trabalhar com música, não é fazer com que os alunos se tornem verdadeiros músicos e sim estimular ludicamente o raciocínio e a criatividade, bem como outros estímulos que serão relatados no decorrer do artigo. Faria (2001, p.24), aponta que “A música como sempre esteve presente na escola, para dar vida ao ambiente escolar e favorecer a sociabilização dos alunos, além de despertar neles o senso de criação e recreação”.

Perante a pesquisa efetuada para o presente estudo, verificou-se que, a história nos mostra que mesmo a música já sendo utilizada no Brasil, seu ensino ainda não era obrigatório nas escolas. Em 18 de agosto de 2008 na lei 11.769 que altera a lei de diretrizes e bases da educação (LDB), o ensino de música passou a ser obrigatório no ensino de arte, no Art. 26 afirma que “ A música deverá ser conteúdo obrigatório, mas não exclusivo do componente curricular”.

O Ministério da Educação – MEC disponibilizou para conhecimento dos educadores os Referenciais Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (RCNEI), vindo este documento embasar teoricamente o professor para uma melhor atuação, pois aponta objetivos, conteúdos e fundamentos da música para ser trabalhado em sala de aula.

Mesmo o ensino de música sendo obrigatório e o MEC., disponibilizando documentos norteadores para o professor, visualiza-se que em nossa contemporaneidade, muitas escolas não inseriram este conteúdo de forma adequada. Pensando-se nesta questão, aponta-se como problema desta pesquisa, procurar entender o porquê muitas vezes é trabalhado o conteúdo de forma mecanizada, sem se preocupar com o desenvolvimento da criança e o que este conhecimento/ linguagem pode proporcionara criança?

Perante a problemática apresentada, justifica-se a feitura do presente estudo, procurando-se como finalidade, atestar a importância da presença da música na Educação Infantil, mostrando que o ato de cantar utilizando a linguagem musical e fazer movimentos e gestos ao cantar pode vir a contribuir para que as crianças se desenvolvam integralmente. Espera-se que o estudo contribua para que profissionais pedagogos se conscientizem e ressignifiquem suas práticas musicais.

A música está presente na sala de aula, porém nem sempre a uma escolha de repertório apropriado, pois, algumas das que são utilizadas podem ser classificadas como de baixa qualidade ou fruto da indústria cultural, não contribuindo de forma eficiente no processo de ensino e aprendizagem.  É de conhecimento que o professor deve explorar o conhecimento de mundo que o aluno traz para a escola de seu cotidiano, mas o papel do educador é de ampliar repertórios, trazendo músicas de outras culturas, muitas vezes estigmatizadas, citando como exemplo as músicas africanas ou indígenas, bem como a erudita. Reforçando-se que isso não quer dizer que devemos esquecer aquilo que a criança já aprendeu e sim aumentar o seu repertório musical.

A música é uma linguagem com características próprias, e a atuação do profissional de educação é no sentido de aproximar a criança desta linguagem. Outra coisa é utilizar a música somente para “acalmar” as crianças. Esta visão também não é adequada. Ela deve proporcionar a criança uma escuta ativa, e ao cantar o educador deve demonstrar toda a sua empolgação, para que as crianças sintam prazer ao cantar, pois se o professor não gosta, não tem o hábito de cantar ou não tem esta relação com a música, ela acaba desmotivando a criança.

Pensando-se nos pormenores apresentados, e, a procura de uma elucidação do problema apresentado elencou-se como Objetivo Geral: Analisar teoricamente a importância e os benefícios da música para o desenvolvimento infantil.

Com o intuito de melhor explanar sobre o tema do estudo, subdividiu-se o objetivo geral em Objetivos Específicos, sendo os mesmos: Conhecer o histórico do Ensino de Música;Identificar a relação entre Música e desenvolvimento da criança;explicitar como o pedagogo pode vir a inserir o conteúdo musical em sala de aula, considerando que não possui formação específica nesta linguagem, apontando caminhos que viabilizem seu ensino. Como metodologia de pesquisa para o presente estudo científico, efetuou-se uma pesquisa bibliográfica, focando-se na revisão de literatura, utilizando-se para este fim autores condizentes à temática apresentada, dentre os quais se destacam,:Bréscia (2003), Loureiro (2003) e Elmerich (1977).

Ao final do estudo, serão apresentadas as considerações finais, acreditando-se que os objetivos alcançados com esse trabalho possibilitarão a abertura de novas possibilidades de investigação de conhecimentos sobre a temática, assim como uma melhor compreensão sobre o tema do presente estudo por parte dos profissionais da área educacional.

2. BREVE HISTÓRICO SOBRE O ENSINO DE MÚSICA

 

Conforme Houaiss apud Bréscia (2003), a música apresentada “como a arte de se exprimir por meio de sons, seguindo regras variáveis conforme a época, a civilização etc.”, está presente em todo o meio social desde a antiguidade e em diversos povos. Através do tempo histórico, nota-se que a mesma vem desempenhando um papel importante no desenvolvimento moral, social e cognitivo, contribuindo para a aquisição de hábitos e valores indispensáveis ao exercício da cidadania. Aponta Ferreira (2017, p.24) que “Assim, não é descabido, mesmo que improvável, considerarmos mesmo que, já nos primórdios da humanidade, a música tenha servido de subsídio para as primeiras manifestações verbais orais da humanidade”.

A palavra música vem do grego “Mousiki” que significa a ciência de compor melodia, sendo os gregos os responsáveis por difundir a linguagem musical na educação e promover o seu ensino entre os Romanos. Durante os primórdios da civilização grega, o ensino da música era obrigatório e de extrema importância para a formação dos cidadãos, iniciando durante a infância e se perpetuando ao longo da vida das pessoas.

De acordo Loureiro (2003, p.34):

A paixão dos gregos pela música fez com que, desde os primórdios da civilização, se tornasse para eles uma arte, uma maneira de pensar e de ser. Desde a infância eles aprendiam o canto como algo capaz de educar e civilizar. O músico era visto por eles como o guardião de uma ciência e de uma técnica e seu saber e seu talento precisava ser desenvolvido pelo estudo e pelo exercício. O reconhecimento do valor formativo da música fez com que surgissem, naquele país, as primeiras preocupações com a pedagogia da música.

Todavia, durante a idade média, o ensino da música era restrito, e se apresentava de forma exclusiva aos mosteiros. Os registros que datam as primeiras escolas responsáveis pelo ensino do desenho, do canto e da tecelagem, remetem ao ano de 1770, nas escolas de origem Espanhola, demonstrando o gigantesco lapso temporal até que este método pudesse ser pensado e implementado em nosso pais (LOUREIRO, 2003).

A música entre o século XVIII e XIX foi classificada como música clássica, sendo esta expressão utilizada para toda produção musical europeia, considerada agradável e produzida para aristocratas. O período musical clássico era complexo voltando à atenção dos compositores a qualidade das melodias. Nesse período, era padronizado o formato da orquestra sinfônica definindo a tonalidade (Frenda, Gusmão e Bozzano, 2013).

Segundo Frenda, Gusmão e Bozzano (2013, p.269). “A expressão “música clássica” também é usada para se referir a toda produção musical tradicional de origem europeia, desde o final do renascimento até hoje, e que é diferente da música popular e regional”.

Tanto é recente tal discussão, que a música erudita chegou ao Brasil através dos portugueses por intermédio dos jesuítas, cujo principal objetivo consistia em catequizar e conquistar novos servos para Deus, e para tanto, utilizavam-se das músicas, mas somente aquelas simples e singelas, de fácil compreensão (ELMERICH, 1977).

Por se tratar de elemento comum em ambas as culturas, a catequização dos indígenas tornou-se facilitada, todavia são quase inexistentes os registros da história brasileira neste período, temos alguns relatos que são descrições curtas, que nos permitem entrever esse cenário. Muito embora o Padre Anchieta tenha alcançado êxito com a aplicação de tal método, as tarefas não foram assim tão fáceis, existia na época uma considerável divergência entre a educação e a música no país, cabendo a ele a missão de se tornar um dos precursores da aplicação deste método de ensino no Brasil, utilizando a música como veículo de educação geral.

Por possuir forma universal, e ser uma combinação harmoniosa e expressiva de sons, a música era o elemento comum, que poderia facilitar o ensino religioso que objetivava o Padre Anchieta, visto que se tratavam de diferentes povos, de diferentes culturas e de idiomas distintos, não havia outro recurso capaz de possibilitar a compreensão  dos assuntos explanados pelos jesuítas, senão pela utilização da música, assim como acontece com diversas crianças que encontram na melodia e no ritmo a compreensão da mensagem que se busca transmitir (ELMERICH, 1977).

A partir de então, a música foi se difundindo no meio social e educacional. Com a vinda de D. João para o Brasil (1808), as recepções de chegada para família Real estavam preparadas na Igreja Nossa Senhora do Monte do Carmo, lá havia um conjunto Musical dirigido pelo Padre José Mauricio, contudo, por um longo período a música ficou ofuscada no país, neste período apenas Francisco Manuel da Silva (compositor do Hino Nacional) zelou pela conservação da musicalidade (ibidem, 1977).

Por outro lado, no reinado de D. Pedro II um decreto federal estabelecido por ele (Decreto Nº 630, de 17 de setembro de 1851) autoriza o governo para reformar o ensino primário e secundário do município da corte, entre as mudanças estabelecidas no decreto constava a inserção do ensino da música e exercícios de canto. Com o decorrer do tempo, este sistema educacional continuou evoluindo, e com a primeira república o país teve a oportunidade de permitir que cada estado desenvolvesse características próprias de acordo com cada região, cultura e costumes.

Por volta do século XIX, foi incluído nos currículos escolares do ensino Público pelo Decreto Federal nº 331 A, de 17 de novembro de 1854. Designava “noções de música” e “exercícios de canto” em escolas primárias de 1º e 2º graus e normais (magistério). (JORDÃO, ALUUCCI, MOLINA, TERAHATA, 2012, p. 19)

Conforme os mesmos autores, através da reforma de Rangel Pestana, homologada esta pela lei nº 81, de abril de 1887, ficou obrigatório em São Paulo, o canto coral nas escolas públicas. Sendo que através da reforma Benjamim Constant, regulamentou-se que o ensino de música passaria a ser ministrado por professores de música admitidos através de concursos e que fossem habilitados para tal ensino, sendo a Lei responsável por este decreto instituída em 8 de novembro de 1890, levando o número 981 (JORDÃO, ALUUCCI, MOLINA, TERAHATA, 2012).

Mas foi durante a Segunda República, nas décadas de 1910 e 1920, que puderam ser notadas, no Brasil, as primeiras manifestações de um ensino mais organizado, caracterizado como canto orfeônico. Muitos acreditam que Heitor Villa-Lobos foi pioneiro nesta prática no Brasil. Mas foram os educadores João Gomes Júnior e Carlos Alberto Gomes Cardim, que atuaram na Escola Caetano de Campos, na capital paulista, e os irmãos Lázaro e Fabiano Lozano, com atividades junto à Escola Complementar (posteriormente, Escola Normal) em Piracicaba, os primeiros a estabelecerem o canto orfeônico no ensino. (JORDÃO, ALUUCCI, MOLINA, TERAHATA, 2012, p. 19)

Em 1922, ocorreu a semana da arte moderna, que buscou nacionalizar as artes, dentre elas a música, ou nas palavras de Andrade (apud RIEGO, 2006):

O que caracteriza esta realidade que o movimento modernista impôs é a fusão de três princípios fundamentais: o direito permanente à pesquisa estética; a atualização da inteligência artística brasileira; e a estabilização de uma consciência criadora nacional. (RIEGO, 2006, p. 69)

Nas décadas de 1930 e 1940, foi implantado o ensino de música em âmbito nacional, sendo orientado e auxiliado em seu planejamento pela Superintendência de Educação Musical e Artística criada por Villa-Lobos (JUNIOR, 2011).

Outro fator relevante ao ensino de música, voltado tanto para a área educacional como social, deu-se no ano de 1942, através do Decreto Lei nº 4545, datado este em 31 de julho, no qual ficou especificado em seu Capítulo VII, que:

Art. 34º – É obrigatório o ensino do desenho da Bandeira Nacional e do canto do Hino Nacional em todos os estabelecimentos, públicos ou particulares, de ensino primário, normal, secundário e profissional. Art. 39° – Ninguém poderá ser admitido ao serviço público sem que demonstre conhecimento do Hino Nacional (BRASIL, apud JUNIOR, 2011, p. 39)

Segundo o mesmo autor, no mesmo ano foi fundado o Conservatório Brasileiro de Canto Orfeônico com o objetivo de capacitar profissionais para ministrar aula de canto, diante do crescimento desse estilo musical nas escolas. A partir de 1945, os professores tinham que ter credenciamento no Conservatório para dar aula de canto orfeônico.

Avançando-se no tempo histórico, contata-se que no ano de 1960, foi criado o curso de formação de professores de música, pela Comissão Estadual de Música e em 1961, A LDBEN (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, 4024/61 iniciou uma substituição do canto orfeônico pela educação musical, se transformando em disciplina curricular (JUNIOR, 2011).

As evoluções da música como disciplina integrante da base curricular, foram cada vez mais notórias, a música acompanhou todo o período histórico vivenciado pelo Brasil, inclusive durante a ditadura Militar (1964-1985) devido a censura aplicada pelo sistema, encontrou-se na música a forma de expressar a indignação do povo, de forma culta, minuciosamente elaborada e intelectualmente engajada, era a forma de muitas pessoas se expressarem e tantas outras serem conscientizadas e compreenderem que um golpe estava eclodindo. (ELMERICH, 1977)

Segundo Elmerich (1977), a música na Ditadura foi utilizada como instrumento para manifestar as opiniões e indignações das barbáries existentes. Como na música haviam censuras, os cantores protestavam através de metáforas, expressando suas insatisfações sobre a discriminação, gênero, etnia, religião, ética, entre outros.

Em 1971, a nova LDBEN (5692/71) estabeleceu que o ensino música seria ministrado junto com artes plásticas, artes cênicas e desenho, compondo apenas uma disciplina chamada de Educação Artística, de matrícula obrigatória para os Ensinos Fundamental e Médio. O ensino superior subdividiu-se em licenciatura de Educação Artística, abrangendo música, artes plásticas, desenho e artes cênicas e bacharelado em Música, abrangendo canto, instrumentos, regência e composição. A secretaria da Educação de São Paulo, devido à falta de professores formados em Educação Artística, criou um guia curricular para estas aulas e convocaram professores que ministraram as aulas de desenho, música e artes industriais, disciplinas estas que foram substituídas pela Educação Artística (BRASIL, 1971).

Elaborada no ano de 1996, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Lei nº 9394/96, erroneamente, reforçou a importância e a obrigatoriedade das aulas de Educação Artística, mas não apontou tal importância para o ensino da música como componente curricular específico (BRASIL, 1996). Com a aprovação, em 18 de agosto de 2008, da Lei número 11.769, alterou-se esta falha, passando a ser obrigatório que as escolas ofereçam aulas de músicas com professores especializados na área, especificando ainda, que a música deveria ser conteúdo obrigatório do componente curricular da Educação Básica, devendo esta obrigatoriedade ser implementada no prazo de 3 (três) anos (BRASIL, 2008)

Nos dias atuais a música tem ganho cada vez mais espaço, sendo aplicada nos diferentes contextos e culturas, se tornando algo inerente à sociedade e se difundindo de forma fugaz.

Neste contexto Ferreira (2017, p.25), explica que:

Hoje sabemos a relação íntima que a música tem, por exemplo, com disciplinas como a arte (em geral), a língua (portuguesa, inglesa, italiana, latina etc.), a história, a matemática, a física, a biologia, a psicologia, a sociologia, a religião etc., mas isso não a limita, pois ela mantém sempre alguma afinidade com outras tantas, mesmo que não estejam diretamente ligadas ao campo da sonoridade.

Conforme Brito (2003, p. 9) “O Universo vibra em diferentes frequências, amplitudes, durações, timbres e densidades, que o ser humano percebe e identifica, conferindo-lhes sentidos e significados”. Desta forma a utilização da música em escolas passou a ser cada vez mais frequente, com o intuito de auxiliar os alunos no processo de aprendizagem.

Em diversas áreas do conhecimento, a música se apresenta de forma enraizada, como forma de assimilação e fixação de conteúdos que por vezes apresentam-se complexos, como é o caso de cursinhos pré-vestibulares em que são criadas paródias, jingles e até mesmo novas composições para que o conteúdo em estudo possa ser memorizado, demonstrando que cada dia mais, a música desempenha um importante papel na educação, pois de geração em geração ela vem ganhando forças e garantindo a sua difundida aplicabilidade.

3 MÚSICA e DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA: uma relação harmoniosa

A música é uma linguagem com características próprias, e a atuação do adulto deve vir a ser no sentido de aproximar a criança desta linguagem. A inserção da criança no mundo musical começa antes mesmo de seu nascimento:

O envolvimento das crianças com o universo sonoro começa ainda antes do nascimento, pois na fase intrauterina os bebês já convivem com um ambiente de sons provocados pelo corpo da mãe, como o sangue que flui nas veias, a respiração e a movimentação dos intestinos. A voz materna também constitui material sonoro especial e referência afetiva para eles. (BRITO,2003, p.35)

Neste contexto, conforme Salles e Faria:

Dependendo da forma como o adulto atua nesse processo de reinvenção do mundo, as crianças podem apenas se apropriar mecanicamente das conquistas culturais da humanidade, como se tudo já tivesse pronto, ou podem ser autoras, redescobrindo e transformando esse mundo, à sua maneira e de acordo com as possibilidades de seu momento de desenvolvimento, guiadas pela curiosidade e pelo desejo de aprender. (SALLES, FARIA, 2012, p. 108).

Diferentemente de outrora, onde a criança era vista como uma miniatura do adulto, onde não havia “[…] respeito às características e peculiaridades infantis”, em que “caracterizava-se infância como um vir a ser” (BRUSCATO, 2006), em nossa contemporaneidade consideram-se as crianças como novas construções socioculturais na transformação do mundo, pois:

As diversas mudanças ocorridas nos últimos 50 anos levam-nos a observar grandes transformações nos modos como às crianças vivem as suas infâncias, sendo essas entendidas como construções socioculturais que diferem profundamente a partir do modo como as crianças se inserem no mundo. (BARBOSA, HORN, 2008, p. 28).

Desta maneira; é mudada a posição da criança de um ser que precisava de proteção para assumir um papel principal na construção do seu desenvolvimento.

Passou-se de uma concepção segundo a qual as crianças eram vistas como seres em falta, incompletos, apenas a serem protegidos, para uma concepção das crianças como protagonistas do seu desenvolvimento, realizada por meio de uma interlocução, ativa com seus pais, com os adultos que as rodeiam, com os ambientes ao qual estão inseridas. (BARBOSA, HORN, 2008, p. 28).

Assim, a criança assume uma postura ativa na sociedade em que está inserida, sendo a protagonista do seu desenvolvimento. Ao passo que o processo de musicalização dos bebês e crianças começa por meio dos sons cotidianos, apresentados pelos adultos que apresentam a música. “As crianças também têm contato, desde pequenas, com diferentes expressões do mundo da dança em festas da cultura popular (carnaval, festas folclóricas, bailes), através da televisão, do cinema e do teatro”. (CHIOCHETA, REIS, 2016, p. 12)

Pode-se dizer que o processo de musicalização dos bebês e crianças começa espontaneamente, de forma intuitiva, por meio do contato com toda a variedade de sons do cotidiano, incluindo aí a presença da música. Nesse sentido, as cantigas de ninar, as canções de roda, as parlendas e todo tipo de jogo musical têm grande importância, pois é por meio das interações que se estabelecem que os bebês desenvolvam um repertório que lhes permitirá comunicar-se pelos sons; os momentos de troca e comunicação sonoro-musicais favorecem o desenvolvimento afetivo e cognitivo, bem como a criação de vínculos fortes tanto com os adultos quanto a música. (CHIOCHETA, REIS, 2016, p. 11)

A partir daí a música de forma lúdica traz diversos desenvolvimentos na educação infantil. Segundo a revista Pais& Filhos (2014), há benefícios que a música proporciona à criança: musicalização, expressão corporal, coordenação motora, foco, contato com outras culturas, criatividade, memória e desenvolvimento da linguagem. Assim, a música também, além no sentido artístico, desenvolve habilidades no criativo:

A criança consegue perceber os variados tipos de sons existentes no seu ambiente, desperta emoções podendo ser trabalhados a expressão, ritmos e os diferentes sons, habilidades não só no sentido artístico, mas também criativo estimulando a construção do seu conhecimento. Assim como se utiliza da palavra ou gestos para manifestar suas ideias, terá como meio de expressão mais uma forte ferramenta na construção de seus argumentos – a música. (MULLER, TAFNER, 2007, p. 102).

Assim, são trabalhados as emoções, a expressão e o ritmo. “A Rítmica, sistema de educação musical criado por Jaques-Dalcroze, que visa a musicalização do corpo, é uma disciplina na qual os elementos da música são estudos através do movimento corporal”. (MATEIRA, ILARI, 2011, p. 27). O ritmo envolve a questão do movimento. “O ritmo é trabalhado na orientação temporal, que é um dos elementos básicos da psicomotricidade. ” (MULLER, TAFNER, 2007, p. 102).

Desenvolver o ritmo contribui, também, para a aquisição do sentido rítmico, adaptação do ouvido a compassos e ritmos diferentes; conservação de um determinado ritmo com o corpo e a voz; memorização e reprodução de um determinado som; identificação dos tempos fortes e fracos; verbalização do ritmo mediante palavras; e promoção do controle dos movimentos, regularizando o gesto impulsivo e coordenando-o. (MULLER, TAFNER, 2007, p. 102).

Perante o aqui exposto, verifica-se a importância da Música ser inserida no processo educacional, no processo de ensino e aprendizagem, visto que uma das melhores metodologias de ensino a ser utilizada vem ao encontro com o aprender de maneira prazerosa.

3.1 A INSERÇÃO DA MÚSICA ENQUANTO AUXILIADOR DO PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZAGEM

Um dos maiores problemas no tocante a utilização de música no contexto educacional, vem a ser que a mesma não é utilizada como meio auxiliador de metodologias, mas surge como costumes folclóricos, na escola como formação de hábitos ou para contemplar datas comemorativas, conforme constata-se em BRASIL (2013):

Sendo assim, a presença da música nas escolas tem, em muitos casos, sido reduzida à realização de atividades pontuais, projetos complementares ou extracurriculares, destinados a apenas alguns estudantes; relegada a uma ferramenta de apoio ao desenvolvimento de outras disciplinas; utilizada muitas vezes como rituais pedagógicos de rotinização do cotidiano escolar, tais como marcação dos tempos de entrada, saída, recreio, bem como das festas e comemorações do calendário escolar. (BRASIL, 2013, p. 5).

Faz-se necessário destacar ainda, outro fator errôneo, tratando-se da utilização da música, fator este, que vem a ser quando se utiliza a mesma somente para “acalmar” as crianças. Esta visão também não é adequada, visto que a mesma deve vir a proporcionar a criança uma escuta ativa, e ao cantar o educador deve demonstrar toda a sua empolgação, para que as crianças sintam prazer ao cantar, pois, se o professor não gosta, não tem o hábito de cantar ou não tem relação com a música, ele acaba desmotivando a criança, acaba ainda, retirando o encantamento da música.

A atual educação precisa de novos transformadores para facilitar e melhorar o contexto educacional em novas linguagens:

A sociedade contemporânea globalizada está organizada em rede, constituindo-se em um sistema aberto, capaz de expandir-se de maneira ilimitada integrando novos nós que permitem a comunicação dentro dessa malha, ou seja, formam-se elos que compartilham os mesmos códigos de comunicação. Para poder participar dessa rede, é preciso que os atores se apropriem desses códigos e é nesse espaço, na oferta de diferentes linguagens simbólicas, que reside o importante papel da instituição educacional na sociedade contemporânea, a qual assim construída, precisa de novos tipos de agentes. (BARBOSA, HORN, 2008, p. 28)

Neste caso, os agentes transformadores são os professores que precisam inovar, utilizando novas linguagens simbólicas para o ensino dentro das escolas. “Assim, a escola deve sair da sua função de transmissora de conhecimentos a serem acumulados para assumir a capacidade de atuar e organizar os conhecimentos em função das questões que se levantem. ” (BARBOSA, HORN, 2008, p. 28).

Diante do exposto, vale acrescentar que as escolas devem se reorganizar e perder a postura de só transmitir conhecimentos e reutilizar os conhecimentos para novas abordagens da educação que vão surgindo, fugindo de paradigmas. Desse modo a criança também pode assumir o papel de transformação, guiadas pelo desejo de aprender.

Portanto, a música é inserida na criação de hábitos de modo cantado e dançado.Assim, na educação infantil, a música traz as funcionalidades para o desenvolvimento da criança:

Existem várias possibilidades para trabalhar com linguagem musical podemos destacar: estímulo ao desenvolvimento do instinto rítmico (com ordens para andar, correr, rolar, balançar); marcação da pulsação com palmas e com os pés, dramatizações simples como imitação de animais (seus movimentos e sons); relacionamento do pulso musical à pulsação do coração, fazendo a criança ouvir o coração do amigo, em repouso e depois de correr; apresentação de canções que sugiram movimentos de acordo com a pulsação da música. (KREUSCH, 2014, p.02).

Então, pode-se dizer que por meio do ritmo, sons, movimentos, é estimulado o desenvolvimento infantil. No modo tradicional, crianças cantam músicas populares, como cantigas de roda, cantos folclóricos e representam em forma de gestos e movimentos:

A música na educação alia-se com o brincar, a vivência com a música desenvolve expressões de gestos e movimentos, o canto, a dança e em especial apreciação musical. O que favorece o processo de socialização, a aproximação com o saber artístico, o lazer, prazer em interagir e experimentar, encontrar significados para suas necessidades emocionais, socioculturais, físicas e intelectuais, a música favorece na respiração, pois quando canta a criança desenvolve a linguagem verbal. (KREUSCH, 2014, p.02).

Desta forma a música no contexto escolar da educação infantil ajuda a criança no seu aprendizado.Entretanto, há diversas representações musicais na escola que favorece a socialização da criança e o saber artístico, que produz benefícios culturais e habituais, mas observa-se a pouca utilização de instrumentos de ensino, resgatando a origem da música e a utilização no planejamento escolar, ou seja, criação de projetos voltados para a música e cultura.

É de conhecimento que o educador, quando de sua formação acadêmica, vem a ter em sua grade curricular o ensino de artes, mas não especificamente o ensino de música. Segundo Iavelberg:

As disciplinas de Arte oferecidas nos cursos de Pedagogia precisam formar o futuro profissional para saber dar aulas de arte, conhecer arte e os processos de ensino e aprendizagem. É importante também que cada pedagogo em formação inicial possa ter experiências de criação artística para saber orientar os processos criativos dos alunos. Isto requer para a Arte uma carga didática substantiva nos cursos de Pedagogia. (IAVELBERG apud BOJUNGA, 2015, p.1)

Diante do exposto, salienta-se que o educador, enquanto não especialista para o ensino específico de música, deve vir a ser um sujeito aprendiz, inserido em uma constante busca de novos conhecimentos, intuindo práxis pedagógica, capaz de auxiliar e mediar o processo de ensino e aprendizagem de seus alunos.

 

4 O ENSINO DE MÚSICA POR PROFESSORES NÃO ESPECIALISTAS

 

Para Ferraz e Fusari (1992, p. 41): “O professor de arte constrói e transforma seu trabalho nas suas práxis cotidianas, na síntese entre a ação e a reflexão. É neste sentido que precisa saber arte e saber ser professor de arte; saber os conteúdos e os procedimentos para que o aluno deles se aproprie”.

Como apontado anteriormente, os cursos de graduação em Pedagogia, não formam especialistas para o ensino de música, devendo então o profissional buscar uma capacitação para tal, visto que a formação de professores deve focar o desenvolvimento profissional diferenciado ao exercício das profissões, na qual haja abertura para habilidades comunicativas, cognitivas e instrumentais, pois aos cursos de formação organizar espaços e tempos para uma formação plena, é dever das instituições de ensino superior desenvolver o comprometimento do futuro profissional com a função social de seu ofício, viabilizando assim transformações reais. “Na formação revela-se e se potência o movimento real do mundo vivido, da cultura, das ciências, das artes, na reconstrução desse patrimônio comum em novas circunstâncias e por outros atores e na ampliação de seus horizontes teóricos, práticos-operativos e emancipatórios” (MARQUES, 2000, p. 53)

Com relação ao exposto acima, destaca-se a Proposta de Diretrizes para a Formação de Professores da Educação Básica em Cursos de Nível Superior (BRASIL, 2000) itens que devem estar em constante desenvolvimento como: compreensão do papel social da escola, ao domínio dos conteúdos, à interdisciplinaridade, ao conhecimento dos processos de investigação, ao gerenciamento do próprio desenvolvimento profissional e ao comprometimento com os valores estéticos, políticos e éticos inspiradores da sociedade democrática.

Salienta-se que, ao mencionarmos o termo Formação Profissional de Professores, não devemos pensar unicamente no professor como um técnico especialista em determinada área, visto que, em sua práxis diária, este se depara com situações que fogem de seu domínio, devido ao fato de o mesmo tratar com seres humanos, o que, por si só, vem a tornar-se um ato complexo. O educador envolve-se em questões que transpassam desde o lado psicológico, culturais, sociais de seus alunos. Jeandot (1993), ao falar sobre o profissional educador, aponte que:

Além da competência técnica, o professor dever ser criativo. A necessidade de criar é comum a todas as crianças, que, ao interagirem com o mundo, constroem seu conhecimento. O educador não deve perder a oportunidade de aproveitar essa disposição. (JEANDOT, 1993, p. 133)

No tocante ao tema do presente estudo, deve-se ter o conhecimento de que nada melhor do que a música para atuar sob a mediação e, com isso, pode-se analisar que: “A música é uma linguagem que traduz essas formas sonoras capazes de expressar e comunicar sensações, sentimentos, pensamentos por meio da organização e relacionamentos expressivos entre som e silêncio”. (BRASIL, 1998, p. 45)

Percebe-se o quanto de fato é necessário exercitar na criança questões de relação às expressões comunicativas e, sobretudo, torná-las capazes de compreender a importância das sonoridades. Sendo assim, é válido destacar que:

[…] professores, compreendamos que somos capazes de fazer da música, arriscando-se a descobri-la, a investigá-la, a viver a experiência sonora. Afinal, a música é uma linguagem e, como tal, um meio de comunicação. O fundamental é que se tenha a paixão de aprender e ensinar música. (CUNHA, 2012, p.204)

 

A prática de um profissional de sala de aula tem como essência a aprendizagem, logo, ensinar mediante o recurso música faz do seu trabalho ainda mais qualitativo e, sobretudo, aplicado em grandes descobertas, curiosidades e, sobretudo, o prazer que tanto se gera a cada criança como ao próprio professor. Em concordância, Freire (1998, p. 09), aponta que: “Ninguém educa ninguém, como tampouco ninguém se educa a si mesmo: os homens se educam em comunhão, mediatizados pelo mundo”. (FREIRE, 1998, p. 09)

Mas, como educar sem ter o conhecimento necessário para tal, ou seja, como educar sem ser um especialista em música? Neste prisma, acredita-se ser de suma importância um preparo dentro da formação docente, assim como no contexto de uma formação continuada, isto no tocante à utilização de conteúdos musicais, visto que um trabalho que lide com a variedade musical, possibilitará descobertas estéticas, técnicas, perceptivas e culturais, fatores indispensáveis a serem utilizados na prática docente, visando à expansão de conhecimentos por parte dos alunos.

É verídico que qualquer professor licenciado pode vir a ministrar o ensino de música, mas o número de educadores verdadeiramente capacitados para este fim torna-se ínfimo, como comprovado por um estudo feito em Porto Alegre – RS, onde ficou comprovado que:

[…] 86,2% do total de professores que atuam com música nas escolas possuem formação em nível superior, mas somente 60,34% deles possuem formação específica para atuar na área de artes (todos licenciados em educação artística) e apenas 13,79% dos docentes informaram serem licenciados em educação artística com habilitação em música. (DEL-BEN, 2006, p. 115).

Através da Lei nº 11.769, sancionada no dia 18 de agosto de 2008, ficou estabelecida a obrigatoriedade do ensino de música nas escolas de educação básica. Exalta-se tal Lei visto o valor dispensado a este conteúdo, vir de encontro ao anseio de muitos educadores que já a utilizavam ou a outros que passaram a utiliza – lá, assim como começa a ser dada a importância devida a esta arte como fonte auxiliadora dentro do processo de ensino e aprendizagem.

Igualmente, ressalta-se que o preparo dentro de uma formação de professores se faz de suma importância, não devendo ser este preparo somente efetuado em breves encontros, onde somente cita-se a obrigatoriedade de tal disciplina. Faz-se necessário que, os discentes dos cursos de formação de professores, obtenham o maior número possível de possibilidades e técnicas de utilização do ensino de música, que dentro dos currículos dos cursos de formação esteja contemplado não a obrigatoriedade, mas a importância da utilização desta ferramenta, que seja demonstrado em exercícios práticos às vantagens da utilização deste recurso didático dentro do processo de ensino e aprendizagem, assim como demonstrado o valor que este ensino tem dentro da conquista de criticidade e na busca de novos conhecimentos por parte dos alunos.

Para Nóvoa (2003, p.23) “O aprender contínuo é essencial e se concentra em dois pilares: a própria pessoa, como agente, e a escola como lugar de crescimento profissional permanente”. Para este estudioso a formação continuada se dá de maneira coletiva e depende de experiência, reflexões como instrumentos de análise. Portanto para esse autor a formação constante e continuada acontece de maneira coletiva. Por certo, o professor constrói sua formação, fortalece seu aprendizado, muda atitudes, troca experiências.

Conforme pode ser constatado nas mais variadas mídias, a música atualiza-se a todo o momento, e são estes ritmos ou estilos de músicas e sons que os alunos trazem como conhecimento de mundo para o interior da escola, devendo o professor saber como utilizar este conhecimento em prol de uma educação de qualidade, em prol do processo de ensino e aprendizagem. Assim como a música e os alunos se atualizam, igualmente o professor deve fazê-lo, construindo um aprendizado constante. Para Nóvoa (2003 p.23) “O aprender contínuo é essencial e se concentra em dois pilares: a própria pessoa, como agente, e a escola como lugar de crescimento profissional permanente”. Através de uma formação contínua, por certo, o professor construirá sua formação, fortalecendo seu aprendizado, mudando atitudes, trocando experiências, modificando seu jeito de ser ou sua própria práxis pedagógica.

A formação continuada do professor deve ser um compromisso dos sistemas de ensino comprometidos com a qualidade do ensino que, nessa perspectiva, devem assegurar que sejam aptos a elaborar e a implantar novas propostas e práticas de ensino para responder às características de seus alunos, incluindo aquelas evidenciadas pelos alunos com necessidades educacionais especiais. (PRIETO, 2006, p. 57).

Em complemento aos dizeres do acima citado autor, aponta-se BRASIL (2005, p. 5), quando esclarece que “[…] a formação do educador deve ser permanente e não apenas pontual; formação continuada não é correção de um curso por ventura precário, mas necessária reflexão permanente do professor”.

Como pode ser observado, no tocante ao ensino de música, não se afirmou em nenhum momento dentro desta pesquisa, que o professor tenha que ser necessariamente um especialista no ensino de música, mas aponta-se a necessidade de que esta temática seja tratada dentro dos currículos dos cursos de formação de professores, tanto inicial como em formação continuada.

4.1 A IMPORTÂNCIA DE UM PROFESSOR MEDIADOR

Esta pesquisa busca relatar a importância do ensino de música na educação infantil, porém para que haja uma valorização das produções infantis se torna necessário que o professor mediador tenha um olhar diferenciado para os desenhos, pinturas, colagens, modelagens e outras formas de expressões, auxiliando e refletindo as imagens de forma construtiva, cabendo assim ao professor estingar seus alunos a terem um diálogo interno buscando  enriquecer o conhecimento de seus alunos pois a criança é um ser que está sendo moldado e sua aprendizagem será tida como base a vida toda.

Como mediador do conhecimento, o professor é essencial para incentivar o aluno pelo caminho da arte ou por outra área do conhecimento, oferecendo os melhores suportes, de forma que venha a somar no seu crescimento e na sua formação” (SILVA, SCARABELLI E OLIVEIRA, 2010, p.102).

Segundo Vygotsky:

[…] na instituição chamada escola ensinar e aprender é fruto de um trabalho coletivo. Aprendizes e mestre celebram o conhecimento a cada dia, quando ensinam e quando aprendem, cabe ao professor mediador organizar estratégia que permitam a manifestação das concepções prévias dos alunos (VYGOTSKY, 1984, p.18).

Para que o professor tenha essa visão de mediador em sua formação de docente se faz necessário ampliar os conhecimentos artísticos desse professor liberando o seu lado infantil e ao mesmo tempo estabelecendo um olhar mais crítico e reflexivo sobre os desenhos e expressões de seus alunos visto que será através desses que o aluno expressa a imaginação e criatividade, mas também se revelam na realidade. O professor deverá ter em mente que estará ajudando a moldar as personalidades de seus alunos tanto no aspecto intelectual como no moral, físico e afetivo, formando o seu aluno para a vida, como relata Libâneo: “O processo de ensino deve estimular o desejo e o gosto pelo estudo, mostrando assim a importância do conhecimento para a vida e o trabalho” (LIBÂNEO, 1994 p.18).

Isto remete ao contexto de que o professor mediador deve ter uma educação de qualidade, implicando na forma que a gestão escolar é exercida, sendo mais coerente, deixando o espaço dos gabinetes, e buscando o profundo conhecimento do que realmente ocorre nas salas de aula participando ativamente (LIBÂNEO, 1994).

O professor deve ser um mediador entre a criança e o objeto de conhecimento nas aulas de música, despertando a curiosidade e o interesse da criança tornando assim um ambiente com experiências educativas prazerosas. Para isso ele deve proporcionar um ambiente de criatividade para a sua criança, com atividades lúdicas e materiais diversificados que ajudem seu aluno a construir habilidades de ver o trabalho e saber dizer se o mesmo está bom ou em que pode ser melhorado ou reconstruído: Quando o educador sabe intermediar os conhecimentos, ele é capaz de incentivar a construção e habilidades: do ver, do observar, do ouvir, do sentir, do imaginar e do fazer da criança” (Ferraz; Fusari, 1999, p. 84).

Vale ressaltar ainda, que o professor mediador deverá ter um novo olhar sobre as produções artísticas de seu aluno tais como os desenhos, pinturas, colagens e recortes, cerâmicas e qualquer outra expressão artística apropriando se desse universo de imagens, auxiliando o seu aluno na construção de uma reflexão que seja mais crítica e construtiva ao mesmo tempo. Conforme aponta Perenoud:

[…] ser mediador entre o aprendiz e o conhecimento é torná-lo sanável no sentido de ajudar na mobilização da aprendizagem cultural através da arte, é encontrar essas brechas de acesso, tangenciando assim os desejos, os interesses e as necessidades das crianças “antenadas” aos saberes, aos sentimentos e as informações que elas trazem consigo (PERRENOUD, 1993, p. 20).

De acordo com as pesquisas realizadas para a sustentação teórica deste estudo científico, ressalta-se que historicamente, a musicalização enquanto recurso mediador da aprendizagem em contexto educacional é muito importante para que as crianças tenham a oportunidade de vivenciar novas experiências  e possibilite a construção do saber, mesmo o ensino de música ter sido  visto em grande parte da história como hora de lazer e  sendo ministradas apenas com cantigas de distração sem direcionamentos no qual o aluno faria o que tivesse vontade no passado essa atitude não mais se encaixa na sociedade atual onde  à democratização do processo educacional propõe um ensino de qualidade, amparado por documentos como o próprio referencial curricular nacional.

Deste pressuposto, afirmar-se que o ensino de música na educação necessita de um professor mediador que seja capaz de aprender, apreciar e valorizar as produções das crianças, criando assim alunos críticos e capazes de desenvolver as suas habilidades em uma sociedade contemporânea.

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

Perante a pesquisa bibliográfica efetuada para o presente estudo, constatou-se que o curso de graduação em Pedagogia, não forma um especialista para o ensino de música, mas a área de formação vem abranger uma variedade de conteúdos de maneira teórica. Sendo assim, depois de formado o profissional quando adentra em uma sala de aula, não estará especializado para tal ensino.

Conforme apontado por estudiosos, somos todos seres inacabados, em uma permanente procura, inseridos em uma permanente construção de novos conhecimentos significativos, sendo que neste contexto aponta-se a necessidade de que o professor esteja inserido em uma permanente formação, em uma formação continuada, para que venha a adquirir as habilidades e competências necessárias, não como um especialista, mas como um mediador facilitador no processo de aprendizagem.

O processo de ensino e aprendizagem vem a transformar-se significante, quando é aplicado de maneira prazerosa, não sendo diferente com o ensino de música. Ao tratar-se desta modalidade de ensino, utilizando-se a ludicidade como ferramenta metodológica, o aluno sentirá prazer em aprender, sentirá vontade de estar em uma sala de aula e desta maneira o educador poderá trabalhar de maneira interdisciplinar.

Afirma-se que a escola ao longo dos anos mudou, não cabendo mais a utilização de um ensino tradicional, no qual o aluno é considerado apenas como uma conta bancária, apenas recebendo os ensinamentos transmitidos. Em nossa contemporaneidade, a dinâmica e interação entre os alunos e professores também fazem parte desse progresso. A pedagogia evoluiu como forma de eliminar o obsoleto e ultrapassado dando lugar ao compartilhamento de informações e conhecimentos, por meio da interação.

A Música faz parte da vida da criança, antes mesmo deste nascer, em sua fase intrauterina. É importante que o educador utilize este aprendizado de mundo, pois proporcionará uma maior gama de saberes e informações.

Compreende-se que a música ocupa seu espaço como sendo uma ferramenta muito importante na disseminação do conhecimento, porém sozinha não serve, é preciso que o professor adquira a capacidade, aproprie dentro de formações continuadas, das diversas linhas pedagógicas metodológicas, para que a criança possa se apropriar dos conteúdos apresentados, preparando-as para o futuro, e motivando interagir e aprender cada vez mais.

Compreende-se que a música tem como finalidade propiciar o desenvolvimento de habilidades relacionadas à linguagem oral e escrita por ser de fácil entendimento, proporcionando reflexões por meio das músicas com rimas, cantigas de roda, brincadeiras e jogos musicais. Essa diversidade de ritmos e gêneros amplia as potencialidades de aprendizagem por meio das repetições presentes e facilita o processo de alfabetização e letramento na educação infantil, ampliando o vocabulário da criança.

Igualmente compreende-se que a música se apresenta como elemento fundamental para o desenvolvimento da identidade da criança, pois se expressa de forma ampla na autonomia do indivíduo, trabalhando a imaginação, criatividade, capacidade de concentração, fixação de dados, experimentação de regras e papeis sociais, desenvolvendo a expressão, o equilíbrio, a autoestima, autoconhecimento e integração social.

Portanto, conclui-se que a musicalização é importante no processo de alfabetização e letramento infantil, a música contribui na aprendizagem e desenvolvimento da criança como um todo. Nesse sentido essa prática pedagógica é de fundamental importância para o desenvolvimento de outras habilidades que serão objeto de trabalhos futuros. Contudo ainda se encontra a necessidade de uma especialização dos profissionais da educação para que utilizem a música de forma concreta, conhecendo suas propriedades.

 

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* Valdir de Oliveira , Licenciado em Letras – Franco-Portuguesas pela Universidade Estadual de Londrina (2008), Pedagogia pelo Instituto Superior de Educação do Paraná (2011), Artes Visuais pela Faculdade Mozarteum de São Paulo e em Letras – Língua Portuguesa e Espanhola pelo instituto Superior de Educação Alvorada Plus (2013). Atualmente é Professor de Educação Infantil e do Ensino Fundamental I na Prefeitura Municipal de Londrina, atuando como Coordenador Pedagógico do CMEI Valéria Veronesi e Professor do Curso de Pedagogia do Instituto de Ensino Superior de Londrina. Tem experiência na área de Educação, com ênfase em Administração de Unidades Educativas, atuando principalmente nos seguintes temas: Contação de Histórias, Brinquedos Cantados, Formação de Professores, Literatura infantil Juvenil e Danças Circulares.

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