Musicalização e o Voluntariado Educacional – Ensino por Meio da Ação Social

O presente artigo tem por finalidade mostrar como a musicalização infantil, aliada ao voluntariado, pode auxiliar no desenvolvimento das crianças que não têm acesso à música em sua localidade ou não possuem a oportunidade de estudar numa escola que ofereça esse método de ensino. Através das habilidades e competências profissionais, o educador musical pode oferecer às crianças, significativas transformações pessoais que ajudarão no processo da construção de sua identidade. Sendo a musicalização um importante instrumento didático, o aluno adquire uma percepção mais extensa de sua realidade, ampliando sua linguagem, e possibilitando abrir novos caminhos de aprendizagem. O trabalho voluntário com a música através dos projetos sociais, melhora as condições e perspectivas da vida de toda família da criança envolvida no processo educacional. Tem como objetivo, a humanização e melhoria da qualidade de vida bem como da saúde psicológica e física das crianças.

A musicalização aplicada nesse contexto, pode transformar de um simples entretenimento para um recurso didático importante no despertar ao amor pela música, pela vida e consequentemente para que as crianças tenham um futuro
melhor.

Palavras-chave: Musicalização. Voluntariado. Infantil. Desenvolvimento. Crianças.

Introdução

O ensino da musicalização têm se destacado cada vez mais na educação infantil, pois é uma prática que insere o  lúdico no processo educativo, considerando a importância do desenvolvimento cognitivo, como um recurso para facilitar os processos de socialização e aprendizagem. A música é uma linguagem capaz de ensinar, voltada para o incentivo à produção artística como forma da expressão da criatividade. A proposta de ensinar música nas comunidades onde não possuem o acesso fácil a esse universo, é para que todos tenham a vivência musical necessária para despertar e estimular a capacidade de progressão no âmbito da música e sua futura qualificação profissional. É através da musicalização, que essas crianças terão a oportunidade de expressar-se musicalmente e compreender as técnicas e suas linguagens corporais.

O programa de voluntariado na musicalização infantil, dá oportunidade às crianças da comunidade participarem, dando um novo olhar para dentro do ensino e expondo a necessidade da aplicabilidade da disciplina. O foco principal de poder trabalhar com música em localidades onde o acesso é restrito, é proporcionar alegria, bem-estar, contato com o lúdico, vivência musical na prática, interação social e desenvolvimento da sociedade como um todo, uma vez que cada criança ali transformada, possui significância a longo prazo para o meio em que convivem. A escolha dessa temática deve-se para refletirmos sobre o ensino de música para o público infantil num contexto social em que muitas crianças não têm contato com essa realidade, evidenciando a necessidade do ensino constante em comunidades para que possam reconstruir o espaço em que vivem e do próprio ser. Para que seja garantido o direito de aprendizado, torna-se necessária a intervenção dos profissionais que tem o intuito de doar o conhecimento para fazer o bem ao próximo e tornar o futuro das crianças, possivelmente melhor.

A partir das alusões apresentadas, esse artigo visa proporcionar ao educador uma perspectiva para o trabalho fora da sala de aula, e como ele pode auxiliar tanto para o bem comum, como para o seu próprio desenvolvimento profissional, uma vez que doando conhecimento, se adquire muito mais experiências. O voluntariado no país referente à musicalização infantil, apesar de ainda ser pouco, proporciona a cada profissional adquirir inovação no campo de atuação e fazer a diferença nas comunidades que mais precisam, expandindo a ideia da renovação do ensino e trazendo a necessidade de mais capacitação.

Para a presente abordagem trataremos de alguns temas sobre esse caminho com as crianças que vivem nas comunidades e de como o voluntariado pode auxiliar nessa progressão.

MUSICALIZAÇÃO E SEUS BENEFÍCIOS

Com base no objetivo desse artigo, percorremos o conceito de musicalização, que refere-se ao processo de construção do conhecimento, favorecendo o desenvolvimento cognitivo/linguístico, psicomotor, sócio afetivo, da sensibilidade,
criatividade, senso rítmico, criação da personalidade musical, imaginação, memória, concentração, autodisciplina, respeito ao próximo e afetividade. Existem pesquisas que comprovam que a musicalização possibilita uma melhora significativa no mecanismo de socialização das crianças, contribuindo para deixar o ambiente em que vivem mais alegre, tornando-as mais receptivas à novas perspectivas de ensino. É um poderoso instrumento que auxilia no desenvolvimento da sensibilidade à música, ao mundo, às pessoas, ampliando a concentração, memória, coordenação motora, acuidade auditiva e disciplina.

A música faz parte do processo educacional. O conhecimento é algo que deve ser construído por completo, portanto, a música é fundamental para a construção de uma base sólida no aprendizado ao longo da vida, principalmente na primeira infância. A nossa comunicação é um conjunto de todas as emoções que expressamos através da nossa personalidade e cultura. Ela proporciona à criança, o desbloqueio dos seus conflitos internos, o exercício do equilíbrio, desenvolve a atenção, faz com que ela tenha uma noção mais objetiva de sua realidade, além de auxiliar no processo de alfabetização básica, ampliando o seu campo de expressão. O ensino de música tem um papel fundamental na estruturação do psiquismo da criança, e proporciona a ela a distinção do real e imaginário, através do ato de brincar, desenvolvendo não somente a imaginação, mas o lado afetivo, onde ela também pode formar seus conflitos e superar suas ansiedades, explorar suas habilidades, e a medida que assume múltiplos papéis fecunda competências cognitivas e interativas. Sobre essa questão, Ubaldo (2009) afirma que:

[…] o professor entra como mediador entre a criança e o
objeto do conhecimento, propiciando espaços e situações de
aprendizagens que envolvam todas as capacidades como,
afetivas, cognitivas, emocionais, sociais, etc., explorando os
diferentes campos de conhecimentos humanos. O professor tem
a função de propiciar à criança, uma ambiente saudável sem
descriminação, rico, prazeroso, onde é possível explorar as
variadas práticas educativas e sociais.

Sendo assim, dentro da proposta do ensino de música em comunidades com pouco ou nenhum acesso, a musicalização vai muito além de simples brincadeiras, alcançando o desenvolvimento do conhecimento tanto para vida pessoal como profissional da criança. Através dos seus movimentos, a criança expressa aquilo que está sentindo, aprende a imitar, se comunicar, interagir. Sendo a música inerente do ser humano, a criança por sua vez gosta de cantar, de ouvir canções, de forma natural. Quando um adulto canta para um bebê, por exemplo, facilita a comunicação no sentido da linguagem materna, proporcionando a relação dela com os sons. Na infância todos os acontecimentos vividos são levados para o resto da vida adulta. Para que haja significância a ela é necessário que tenham pontos de contato com a sua realidade e nada melhor do que inserir essa disciplina no ambiente em que vivem de fato, sendo de competência do professor voluntário mostrar as possibilidades de exploração do que lhes é oferecido e transformar o ambiente educacional mais propício ao sucesso no aprendizado infantil.

DIDÁTICA NO ENSINO DE MÚSICA

Ter o contato com os métodos de musicalização, possibilita o desenvolvimento através da imaginação e dos sentidos, trazendo através da carga histórica a consciência de que é algo a ser utilizado também nos dias atuais, e que por vezes se perde nos anos pelos educadores. Estar atendo à da necessidade desses ensinamentos, como educadores estamos colaborando com uma forma mais rica de ensino, proporcionando aos alunos um aprendizado mais eficaz e com muitas possibilidades, respeitando também a percepção individual de cada aluno. Todas as áreas que envolvem um processo que proporciona o despertar de novas perspectivas, é um incremento na execução e criação musical no ambiente da musicalização, sendo como atividades integrantes e fundamentais no desenvolvimento do funcionamento e suas possibilidades.

Assim como outras formas de explorar os dons musicais das crianças, deve-se respeitar os momentos individuais de aprendizagem. É necessário que ao introduzir esse universo musical para as crianças, o educador identifique juntamente com a família, qual o tipo de informação musical as crianças estão absorvendo. Existem várias referências históricas que nos permitem adaptar as músicas ao contexto atual, ao ambiente em que a criança está inserida e através disso estimular o prazer pela música. As várias técnicas surgiram de forma a proporcionar um aprendizado eficiente e saudável e auxiliar em todo processo de construção da identidade musical de cada
criança. Para ilustrar melhor essa realidade temos o seguinte pensamento:

[…] a criança, por meio da brincadeira, relaciona-se com o
mundo que descobre a cada dia e é dessa forma que faz música:
brincando. Sempre receptiva e curiosa, ela pesquisa materiais
sonoros, inventa melodias e ouve com prazer a música de
diferentes povos e lugares. (Joly, 2003; p. 116).

DESAFIOS DO ENSINO DE MÚSICA

Para que possamos entender um pouco como a nossa legislação age de acordo com o tema proposto e nosso contexto, cabe citar as orientações que constam na Resolução Nº 2, de 10 de maio de 2016, do Conselho Nacional de Educação, que define as Diretrizes Nacionais para a operacionalização do Ensino de Música na Educação Básica, onde diz em seu parágrafo primeiro que compete às escolas “incluir o ensino de Música nos seus projetos político-pedagógicos como conteúdo curricular obrigatório”, bem como “estabelecer parcerias com instituições e organizações formadoras e associativas ligadas à música, visando à ampliação de processos educativos nesta área”. Diante disso, a consciência do próprio educador da necessidade de expandir o seu conhecimento, e trabalhar de forma contínua fora do ambiente escolar, é relevante, uma vez que levando o conhecimento adquirido em
sala de aula, para quem não tem a mesma oportunidade é enriquecedor para a sociedade como um todo.

É de responsabilidade do educador refletir sobre o papel que a música desempenha na sociedade. Seu objetivo também é desenvolver juntamente com o aluno a capacidade de progressão no âmbito da música e qualificação profissional posteriores, expressar-se musicalmente, compreender a técnica e suas linguagens corporais. Para que o ensino musical seja valorizado e que cada vez mais esse trabalho seja expandido nas comunidades e na sociedade, é necessário que se invista em políticas públicas que atestem a necessidade de tal disciplina, é uma responsabilidade social, em que todos os envolvidos, do Estado ao educador, possuem um grande desafio a ser cumprido. Sabemos que nas últimas décadas, tivemos muitos avanços no que se refere ao ensino de música no país, e que esse método de ensino passou a ser considerado com maior seriedade como uma linguagem transformadora capaz de proporcionar
registros para a memória, reapresentação das ideias, função de comunicação e expressão para os indivíduos. A interlocução entre educação musical e a cultura se dá na forma de observação da estruturação da subjetividade, sendo através de atividades ligadas à apreciação musical, ou um espaço de expressão daquilo que não pode ser transmitido pela linguagem convencional. É um espaço de desenvolvimento através da imaginação e dos sentidos, trazendo através da carga histórica a consciência de que é algo a ser utilizado também nos dias atuais, e que por vezes se perde nos anos pelos educadores.

O PAPEL DO VOLUNTARIADO EDUCACIONAL

Desse modo, a mediação por meio de trabalhos voluntários vai muito além do que visitas ou dinâmicas elaboradas. É um trabalho que visa a compreensão do ser humano, daquela criança que necessita se desenvolver, da garantia de aprendizado. O profissional voluntário, assim como em sala de aula, precisa ter ouvidos às necessidades daquela criança, conhecimento de suas vidas e seu espaço, seus sentimentos, seus anseios, para que de fato, se faça efetivo na vida de cada uma. Sobre essa questão, consideremos a seguinte opinião:

[…] já não bastam informações e orientações, é preciso
construir novos paradigmas de ação que todo o tempo nos diz e
nos pede “mediações”. É esse estado que gera desafios. E eles
se amplificam se considerarmos os diferentes ambientes de
apreensão e compreensão. Lima (2009, p.148)

 

De acordo com as muitas possibilidades de trabalho com a música nas comunidades, fica para o educador, a responsabilidade na construção dos interesses pedagógicos e metodológicos, bem como fazer a adequação ao contexto que será aplicado. O foco principal precisa ser a aprendizagem da criança, e esse deve ser o objetivo almejado nos projetos sociais, tornando toda trajetória cheia de alegria, satisfação e prazer, fazendo com que tudo ocorra de forma muito intensa. Sendo assim, compreender o indivíduo como uma forma de representação da realidade é dar-se conta de sua potencialidade e da sua capacidade infinita em aprender e se desenvolver como ser humano.

Considerações Finais

Este trabalho buscou explanar os aspectos que cercam a musicalização, aliada ao voluntariado, e como esse processo pode auxiliar no processo de construção do saber, e na contribuição na socialização das crianças. Entende-se que a música pode ser inserida de forma a colaborar com o desenvolvimento infantil em todos os aspectos, através de atividades desenvolvidas de acordo com o cotidiano da educação e as experiências de cada indivíduo. O objetivo maior, é proporcionar uma nova perspectiva de vida, um novo horizonte repleto de possibilidades. Segundo a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), Lei Nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996:

Art. 1º “A educação abrange os processos formativos que se
desenvolvem na vida familiar, na convivência humana, no
trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos movimentos
sociais e organizações da sociedade civil e nas manifestações
culturais”.

Sendo assim, o voluntariado age de forma a ajudar nas experiências de formação da vida não somente do aluno mas do profissional, uma vez que possibilita não apenas o desenvolvimento de competências técnicas mas, sobretudo, permite na expansão de competências sociais que consequentemente favorecerá para uma inserção social satisfatória. A educação musical por meio do voluntariado, é uma ação que é motivada por intenções espontâneas a fim de servir ao próximo, portanto, não está ligada a uma obrigação, mas a um querer mútuo. Há uma necessidade de desenvolver uma sensibilidade humana diante das características atuais de uma comunidade carente, onde as perspectivas de melhorias dos aspectos sociais e econômicos são escassas. O que é abordado através da ideia do voluntariado, é que nós profissionais coloquemos nossas habilidades a serviço da população, para que possamos desenvolver ações na área da musicalização, promovendo o ensino e vinculando a comunidade para contribuir significativamente com seu aprendizado e no seu papel de cidadão na sociedade.

Referências

VIEIRA, Illana Catarina de Passos, Importância Da Musicalização Na Educação
Infantil, A importância da musicalização e sua participação no processo de
ensino-aprendizagem nos anos iniciais da educação infantil, artigo.
_______Presidência da República. Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB),
Lei Nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, Estabelece as diretrizes e bases da
educação nacional.
AMATO, Rita de Cássia Fucci, Breve Retrospectiva Histórica e Desafios do
Ensino de Música na Educação Básica Brasileira, artigo. Revista Opus 12 –
2006.
ROCHA, Mariane Girardo da, Musicalização na Educação Infantil e o
Desenvolvimento da Linguagem Oral nas Crianças de Zero a Dois Anos, 2013,
38 páginas, monografia de especialização.
CHIOCHETA e REIS, Lucilene Fagundes e Marcos Adelmo, Música Na Educação
Infantil, artigo.
FREITAS, Ana Claudia de, Contribuição Da Música Na Construção Do
Conhecimento Na Educação Infantil, Artigo Científico

 

Amanda Crispin Vidal – Graduada em Gestão Pública; Licencianda em Música; Pós Graduada em Musicalização Infantil; Professora de Canto Popular ;   Musicalização Infantil no Instituto de Música GTR (DF); Voluntária em projetos sociais  voltados a educação musical em comunidades carentes.

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