Abordagem Histórica sobre os Métodos Ativos da Primeira Geração utilizados no Ensino da Música

Este artigo contém pequena abordagem sobre os métodos ativos utilizados na música na primeira geração assim como a biografia de seus idealizadores. Os métodos musicais elaborados por Dalcroze e Willems descritos neste artigo, falam sobre o desenvolvimento cognitivo do ser através da música. Dalcroze em seu método, propõe que devemos trabalhar nosso corpo que é considerado como o primeiro instrumento musical que conhecemos. Através dos nossos movimentos, podemos desenvolver o raciocínio, a coordenação motor e a disciplina. O método Willems trabalha com o desenvolvimento emocional e musical através da percepção auditiva. O ser ao se perceber através do sentido da audição desenvolve o equilíbrio, a paciência e a concentração que são elementos indispensáveis para a aprendizagem de qualquer disciplina. Kodály em seu método aborda a importância do folclore para o conhecimento cultural de um povo, e a importância do estudo musical para todas as pessoas. O método Orff é baseado na importância do ritmo, no movimento e na improvisação. Orff também aborda a necessidade do ensino musical para crianças ainda pequenas, onde o desenvolvimento mental é muito maior. O método Suzuki fala da importância da memorização da repetição e da disciplina, elementos indispensáveis para uma boa aprendizagem.

Palavras-chave:Educação Musical. Métodos Ativos.

INTRODUÇÃO

 Há vários anos o tema música vem sendo muito difundido como uma proposta eficaz a ser implantado nas escolas regulares como forma de desenvolver a socialização e desenvolver a cognição. Musicalizar a escola, contudo, é mais do que simplesmente inserir a música como disciplina obrigatória no currículo. É fazer dela um projeto de integração capaz de articular as diferentes dimensões do conhecimento e proporcionar uma formação mais condizente com as aspirações do ser humano. (GRANJA,2010,p.101)

 

De uma maneira geral, os meios de comunicação, literaturas específicas e pesquisas, falam que os projetos sociais que utilizam a música como meio de educação conseguem grande sucesso. (HUMANISTA.2018)

Com a aprovação da Lei 11.769/2008, que estabelece o ensino da música na educação básica, “A música deverá ser conteúdo obrigatório, mas não exclusivo, do componente curricular de que trata o § 2º deste artigo” (lei nº 11.769 de Agosto de 2008. PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA.CASA CIVIL. Subchefia para Assuntos Jurídicos), tendo as escolas três anos para se adaptarem a partir da publicação da lei, o assunto passou a ser discutido. A promulgação da lei é um avanço para a cultura do país, sendo na escola para a grande maioria das crianças, a única maneira para ter acesso ao universo da boa música. Mas o que parecia a solução ficou confuso a partir do veto do 2º artigo onde fica desobrigado o professor não específico para ministrar as aulas.

 

[..]No tocante ao parágrafo único do art. 62, é necessário que se tenha muita clareza sobre o que significa ‘formação específica na área’. Vale ressaltar que a música é uma prática social e que no Brasil existem diversos profissionais atuantes nessa área sem formação acadêmica ou oficial em música e que são reconhecidos nacionalmente. Esses profissionais estariam impossibilitados de ministrar tal conteúdo na maneira em que este dispositivo está proposto.(PRESIDENCIA DA REPÚBLICA.CASA CIVIL. Subchefia para Assuntos Jurídicos.Mensagem nº 622, de 18 de Agosto de 2008)

 

A não obrigatoriedade do docente com formação específica em música leva a muitos equívocos quanto a forma correta de ministrar as aulas. Um profissional prático pode fazer o exercício da profissão, pode tocar um instrumento ou cantar bem, mas não tem o conhecimento acadêmico, a didática correta de ministrar aulas para crianças do ensino fundamental ao ensino médio.

A educação musical na escola não visa a formação profissional de músicos e sim a possibilidade de desenvolver a criança através da linguagem musical suas emoções, ampliando assim sua ideia de mundo e cultura para a sua formação integral. Para Katsch e Merle-Fishman apud Bréscia (2003, p.60) afirmam que “[…] a música pode melhorar o desempenho e a concentração, além de ter um impacto positivo na aprendizagem de matemática, leitura e outras habilidades linguísticas nas crianças”.

Quando se fala em arte, pensamos apenas em talentos e pessoas talentosas. Mais para trabalhar com a arte é preciso técnica e método.Como toda matéria, a música também através de experimentações científicas, passou a ter metodologias para ser aplicadas pedagogicamente.Os métodos musicais, citados nesse trabalho são denominados de métodos ativos da primeira geração, criados pelos pedagogos Edgar Willems, Carl Orff, Emile Jacques Dalcroze, Zoltán Kodály, Suzuki. Seus métodos tiveram repercussão no mundo ocidental e no Brasilà “pertinência de suas propostas e por sua penetração no Brasil, tornando-se, com isso, mais significativos entre nós” (FONTERRADA, 2005, p. 109).

Trabalhar a música nas escolas pode ajudar a desenvolver capacidades pouco requisitadas nos alunos. Com a aplicação desses vários métodos, habilidades não só emocionais mais físicas serão recrutadas e a música pode ser integrada eficazmente todas as disciplinas.

 

INÍCIO DA EDUCAÇÃO MUSICAL NA HISTÓRIA

 

A educação musical está presente na história sempre acompanhando a evolução do homem. Nas civilizações antigas como por exemplo a egípcia e grega, entre outras, a música sempre ocupou um lugar de destaque.

Os registros mais antigos referentes a prática musical, datam de aproximadamente 2.500 a.C em pinturas feitas pela civilização egípcia (BAYER, 1993). Não existia em estudo formal de música e nem métodos. A música era uma expressão artística que era passada de ouvido para ouvido dependendo sempre do talento da pessoa que tinha o interesse de tocar um instrumento ou cantar. Uma das civilizações antigas que deu muita importância a educação musical foi a dos gregos, transformando o estudo da música obrigatório para a plena formação de qualquer cidadão grego.A música da antiguidade era pagã, e utilizada para festejar deuses, guerras. Mas com o advento do cristianismo, que passa a ser a religião oficial do ocidente, a música medieval passa a ter um caráter religioso, e que só tem apenas uma função, a de exaltar o filho de deus.

 

[…] É exatamente aí que se inicia uma grande mudança na música. Antes, ela era ritmada, alegre, mesmo nas cerimônias religiosas. De repente, surgiu a necessidade de se musicar cerimônias para Deus, cujo filho havia morrido em circunstâncias trágicas. (MONTANARI. p. 21.1988)

 

Através da música como louvor na liturgia católica, a Igreja passa a ter uma responsabilidade na educação. É através da música que a igreja medieval disseminava o cristianismo. O Quadrivium, modelo educacional grego, é introduzido pela igreja, como modelo de educação.”Esse currículo era composto pelas quatro antigas disciplinas da escola pitagórica: a aritmética, a música, a geometria e a astronomia”. (GRANJA.p.41.2010)

A música que prevalecia na idade média foi a vocal, e era proibida a inclusão de qualquer instrumento, principalmente os percussivos que para a igreja lembrava as festas pagãs.

 

[…] A música instrumental correspondia ao nível mais baixo de perfeição, pois era produzida pelo homem por meio do canto ou de  instrumentos musicais. Era a única música que se podia ouvir! Em nível acima estava a música humana, correspondendo à harmonia entre o corpo e a alma do homem. No nível mais alto encontrava-se a música mundana, que correspondia à música das esferas celestes de Pitágoras e Platão, ou sejam a harmonia no sentido metafísico e filosófico. (GRANJA. p. 43.2011).

 

Os primeiros métodos musicais começaram a surgir no início do século XX, tendo como base as mudanças que ocorriam na sociedade da virada do século XIX para o XX. O ensino da música passa a ser questionado em sua maneira de ser ensinada.

 

“Grande parte das propostas desenvolvidas no século XX apresentam  em comum é a revisão dos modelos de ensino praticados em períodos anteriores, ou seja, aqueles modelos de educação musical que focalizavam a formação do instrumentista, reprodutor de um repertório vinculado a uma tradição musical, a partir de concepções fortemente arraigadas na questão do talento e do gênio musical. Naquela perspectiva do passado, o fazer musical estaria relacionado a um grupo de pessoas talentosas, assumindo uma postura exclusiva, na qual grande parte dos indivíduos estaria impossibilitada de se desenvolver musicalmente”. (FIGUEIREDO, 2012, p. 85)

 

 

Os métodos ativos desenvolvidos pelos pedagogos da primeira geração do século XX, são fontes de muito estudo para muitos pesquisadores da área musical tais como Fonterrada (2005), Gainza (1988), Figueiredo (2012) entre outros.Todos esses pesquisadores afirmam que os métodos são eficazes e suas propostas pedagógicas contribuem para o desenvolvimento da educação musical e o desenvolvimento cognitivo através da música.

 

 BIOGRAFIA DE ÉMILE JACQUES DALCROZE

 

Émile Henri Jacques nasceu em 6 de julho de 1865 em Viena. Era filho de pais Suíços e aos 10 anos retorna para a cidade de Genebra Suiça. Èmile formou-se em piano e composição pelo Conservatório de Genebra e passa a adotar o nome DALCROZE profissionalmente. Durante 18 anos lecionou harmonia teórica no Conservatório de Genebra. Dalcroze entendia que a música está ligada com os movimentos do corpo, sendo de vital importância que o músico desenvolva o ritmo, a coordenação motora e a memória auditiva para assim ser um músico completo. Como professor, passa a observar a forma de estudar dos alunos:

 

Dalcroze percebeu que os alunos não conseguiam reproduzir internamente (mentalmente) a música escrita na partitura, e que eles executavam a partitura de forma mecânica e inexpressiva. Estas observações o levaram a entender que os alunos não faziam a junção e a coordenação entre ver, ouvir, e sentir a música através do corpo e da mente, necessárias para aprender o repertório, e principalmente, para tocarem bem (FARIA,2011, p.18).

 

A partir dessas observações, Dalcroze cria um dos métodos musicais mais conhecidos e adotados chamado de método Eurrítmico. Eurrítmico é um método que procura treinar o aluno a primeiro observar o movimento do seu corpo para depois introduzir na música e a partir dos movimentos corporais desenvolver a musicalidade. Para Teca de Alencar Brito: “No contexto da educação musical ocidental do século XX, foi Émile Jacques-Dalcroze (1865-1950) foi quem primeiro se preocupou com o corpo como meio para o desenvolvimento não só musical, mas também da personalidade da criança” (BRITO, 2003, p.145)

As atividades propostas pelo método Dalcroze utilizam os ritmos naturais do corpo, movimentos como correr, saltar, andar, além de desenvolver a percepção auditiva da altura dos sons. O método de Dalcroze foi baseado em suas experimentações e observações de seus alunos.

 

O sistema de educação musical a que Dalcroze chamou “Rythmique” (Ritmica) relaciona-se diretamente à educação geral e fornece instrumentos para o desenvolvimento integral da pessoa, por meio da música e do movimento. Além desse propósito mais amplo, atua como atividade educativa, desenvolvendo a escuta ativa, a voz cantada, o movimento corporal e o uso do espaço. Dalcroze enfatiza o fato de o corpo e a voz serem os primeiros instrumentos musicais do bebê, daí a necessidade de estímulo às ações das crianças desde tenra idade, e da maneira mais eficiente possível. (FONTERRADA, 2008, p.131)

 

O método Dalcroze foi primeiro aplicado em adultos, mais tarde foi adaptado para crianças a partir dos seis anos. O grande objetivo de Dalcroze não era somente o de desenvolver as capacidades naturais do primeiro instrumento de que o homem possui, que é o corpo, mas “[…] o grande objetivo de Dalcroze era a educação das massas, e o meio que apontava para isso era inserir a educação musical nas escolas de ensino regular.”(VALIENGO, 2015, p.76).

Dalcroze teve uma vida intensa, além de ser pedagogo e musicista, foi ator, jornalista, regente de orquestra, diretor teatral compôs algumas óperas, dois concertos para violino, três quartetos de cordas, peças para piano e muitas canções. Em 1914 cria em Genebra na Suíça o Instituto Jacques-Dalcroze (http://dalcroze.ch/)e mais tarde fundou várias escolas de “euritmia” em diversas capitais europeias. O método Dalcroze foi criado a princípio para ser empregado na música, porém a nova abordagem da expressão corporal como ferramenta para o desenvolvimento cognitivo passou a ser integrado também em outras áreas como a dança, artes cênicas e educação física.

 

 BIOGRAFIA DE EDGAR WILLEMS

 

O pensamento e obra de Edgar Willems são reverenciados na pedagogia musical. Foi um homem que levou a arte da música para a imortalidade através de seu método.  Segundo suas próprias palavras: “[…] Minha vida é Fé, Verdade, Bem e Beleza; quando vejo uma obra de arte, eu digo: isso é Bem, é Verdade, é Beleza”. (ROCHA, 2013, p.11). Edgar Willems nasceu em 13 de outubro de 1890 em Lanaken, Bélgica. Desde a infância, teve convívio com a música. Seu pai era músico e regia os corais e bandas da cidade onde morava. Os dotes musicais do jovem Willems surgiram ainda na infância, quando gostava de fabricar instrumentos musicais e ensinar as crianças a tocá-los.

Mais o jovem Edgar Willems também tinha outra grande paixão, a pintura. Após se formar como professor, decidiu se especializar em pintura, inscrevendo-se na Escola de Belas-Artes de Bruxelas. Em 1925 com 35 anos, Willems passou a estudar música e matricula-se no Conservatório de Génève.Edgar Willems teve a oportunidade de ser aluno de Èmile-Jaques Dalcroze e Mme. Lydia Malan, a qual atribui a sua riquíssima formação musical

A metodologia de Willems, fundamenta-se na escuta e na sensibilização auditiva, principalmente focando as crianças. Em sua proposta,Willems dedica-se a dois aspectos: o teórico, que engloba os elementos fundamentais da audição e da natureza humana, e a correlação entre o som e natureza, e o prático, em que organiza o material didático necessário a aplicação de suas ideias à educação musical (FONTERRADA, 20018, p.138).

Willems em seu método reforça a ideia de que o ensino musical deve partir primeiro da sensibilização e do preparo auditivo e depois do estudo do instrumento musical em si. É primordial que a criança primeiro aprenda a sentir e a reconhecer o som antes do estudo musical. A audição, de acordo com o autor, apresenta aspectos que Willems denomina sensorialidade, sensibilidade afetiva auditiva ou afetividade auditiva e inteligência auditiva, que estão em estreita relação com a capacidade sensório-motora, a sensibilidade afetiva e inteligência do homem, prosseguindo, além disso, para uma dimensão espiritual (FONTERRADA, 2008, p.139). O aspecto sensorialidade refere-se ao reconhecimento do som e a reprodução domesmo através do ouvir. A sensibilidade auditiva refere-se a emoção que uma determinada melodia provoca em nós através de seus intervalos, acordes musicais. A inteligência auditiva refere-se a maturidade consciente de nosso sentidos e ao reconhecimento musical dos diversos estilos musicais. O som foi objeto de estudo de Edgar Willems, que entendia que para se ter um bom desenvolvimento musical, era preciso ter conhecimento científico do funcionamento do ouvido.  O conhecimento do modo de funcionamento do ouvido contempla, em especial, os aspectos fisiológicos da audição, e Willems dedica boa parte de seu texto a analisar o trajeto do nervo auditivo, o que explicaria os diferentes aspectos da audição: sensorial,sensível e mental (FONTERRADA, 2008, p. 140).

Para Willems, o estudo do som e seus efeitos, devem fazer parte da iniciação musical infantil para um bom desenvolvimento musical.Saber ouvir para poder entender.”[…] A melodia sempre foi e sempre será o elemento mais característico da música” Edgar Willems(ROCHA, 2013,P.25). A metodologia de Willems, procura abordar e aproximar a música para o pensamento científico do século XIX. Grandes pedagogos influenciaram o trabalho de Willems, especialmente Piaget. “Como Piaget, Edgar Willems divide o desenvolvimento infantil em estágios, que vão do material, sensorial ao intelectual, passando pelo afetivo; para ele,esse tipo de estrutura está presente na música, no ser humano e na vida” (FONTERRADA,2008,p.149).

O método de Willems busca desenvolver a música primeiro através da audição através de vários jogos utilizando as alturas do som (grave,médio e agudo) e a sensibilidade, focando a importância do desenvolvimento afetivo da criança Quanto a educação musical, ela constitui uma contribuição cultural, artística e  humana que nenhuma outra disciplina está em condições de fornecer ao ser humano”Edgar Willems (ROCHA, 2014, p.66).

Edgar Willems escreveu vários livros expondo seu método que é conhecido e utilizado em vários países como França, Bélgica, Alemanha, Noruega, Espanha, Itália, Canadá, Portugal entre outros. No Brasil, seu método ficou conhecido após um Seminário de Música na escola de Música da UFBA, Universidade Federal da Bahia,onde o próprio Willems ministrou o curso e expôs seu método. Atualmente no Brasil, a representante do Método Willems e autora de vários métodos baseados a partir do método Willems é a pedagoga e professora Carmen Mettin Rocha. O professor Edgar Willems faleceu em 1978 com 89 anos de idade, deixando uma grande e valorosa obra que contribuiu para o melhoramento da pedagogia musical.

 

 BIOGRAFIA DE ZOLTÁN KODÁLY

Zoltán Kodály nasceu em 16 de Dezembro de 1882 na cidade de Keskémetina, na Hungria.Filho de músicos amadores, teve contato com a música muito cedo. Aos cinco anos de idade começa seus estudos no piano, depois aprendeu violino, viola e violoncelo, e ainda gostava de cantar na igreja. Kodály começou seus estudos de composição na Academia de Música de Budapeste. O maior interesse de Kodály era na música nacionalista, tema que o acompanhou em toda a sua vida e obra. Kodaly era considerado:

 

[…] um ferrenho nacionalista e carregou com empenho a tarefa de reconstrução da cultura Musical húngara, abandonada e escondida durante muitos séculos pela influência dos sucessivos invasores, após ter alcançado altos níveis artísticos, houve um momento de declínio, a partir do chamado “desastre de Moháes” (1526) quando a Hungria foi ocupada pelos  turcos.”(FONTERRADA, 2008, p.150 )

 

Toda a cultura da Hungria foi subjugada por outra cultura, que somente no final do século XVIII e início do XIX começa a retornar.Um dos grandes incentivadores para essa retomada de uma identidade própria cultural, foi a do trabalho do compositor e pianista do mundo Franz Liszt e também o compositor de óperas o húngaro Ferenc Erkel.

A música húngara é muito marcada pelo seu folclore e está ligada a dança, e era levada para as cidades pelos ciganos. A base desse folclore rico foi explorada com sucesso pelo compositor Franz Liszt através de suas composições intituladas de Rapsódias Húngaras.

Com a ideia de registrar a memória original musical húngara, Kodály começa a desenvolver seu trabalho que o tornou um dos grandes pedagogos musicais do século XX.

Sua metodologia é largamente difundida pelas escolas especializadas em música e também adotadas em escolas de ensino regular por todo o mundo.

O trabalho de Kodály baseia-se no folclore que é a memória viva dos costumes de um povo, no seu caso o folclore húngaro, e para isso, excursionou por todas as aldeias e vilarejos esquecidos da Hungria para fazer um levantamento culturas da música que era tocada. Desse levantamento cultural musical surgiu composições contemporâneas baseados na música folclórica que era tocada pelo seu povo.

O folclore passa a ser a marca da cultura musical do povo húngaro e a base de estudos de Kodály.

Kodály em 1905 anexa sua pesquisa com o também compositor Bela Bartók, e juntos começa um trabalho científico. […]”O trabalho científico da equipe formada e liderada por Kodály em prol da redescoberta da cultura húngara apresentava quatro fases: coleta de material, transcrição, classificação e publicação”.(FONTERRADA, 2008, p.152)

A pesquisa de Kodály e Bartók, elevou a música ao status de estudo científico, o que leva a criação de uma nova metodologia com respaldo científico.

Após a libertação da Hungria pelo império Austro-húngaro em 1945, as ideias de Kodály e Bartók ganharam um novo impulso e deram origem a novas publicações musicais.

Os livros didáticos musicais começam a surgir.na Hungria[…]”A nova república popular Húngara forneceu o suporte para a aplicação do método em uma ampla rede de escolas estatais”. (FONTERRADA, 2008, p.153)

Como já citado, toda a pesquisa de Kodály baseou-se no folclore. […] “O folclore não é objeto de interesse apenas da ciência, mas também da arte.”(FONTERRADA,2008,p.153)

A metodologia criada por Kodály, teve a tarefa de reconstruir a identidade de um povo, através do folclore, conforme veremos a seguir.

 

A abordagem de ensino de música conhecida, posteriormente, como “Metódo Kodály” de implantação da música nas escolas, utiliza-se prioritariamente de canções folclóricas e nacionalistas, isto é, de obras compostas a partir do material coletado durante a pesquisa e das constantes rítmicas e melódicas encontradas nessa coletânea, mediante  acurada análise. (FONTERRADA, 2008, .p 155).

 

O objetivo de Kodály em seu método era a do ensino de canto para todas as pessoas, através de uma alfabetização musical aplicada em todas as escolas do país, trazendo a música para o cotidiano das pessoas e educando os mesmos, para a música de concerto. […]” Kodály propunha a reforma do ensino musical, estreitamente ligada ao sistema educacional húngaro, que estaria presente em todos os níveis de ensino, das classes de educação infantil até o curso superior.” (FONTERRADA,2008 p. 155)

O método Kodály propõe o ensino do canto, resgatando o folclore e as músicas nacionalistas, o desenvolvimento da leitura e escrita musical, o treinamento auditivo, rítmica e percepção musical. Kodály preocupou com a educação infantil, criando o método monossolfa que é um sistema que emprega

sinais e gestos manuais para representar as notas musicais, como podemos observar na figura:

MONOSSOLFA

O sistema monossolfa é um método bastante interessante e barato, que poderia ser incluído na escola regular na inclusão dos alunos auditivos, proporcionando uma socialização e aprendizagem construtiva. No Brasil o método Kodály e divulgado pela Sociedade Kodály em São Paulo. A instituição oferece cursos trabalhando o folclore brasileiro.

Para Kodály, se a música fizesse parte da vida cotidiana das pessoas, teríamos uma sociedade melhor. A metodologia de Kodály poderia ser implantada nas escolas regulares brasileiras e teria muito sucesso. Uma de suas principais ideias e de fácil aplicação é a de resgatar o folclore da nossa terra, as danças, a música e a utilização da monossolfa para a inclusão dos deficientes auditivos e também intelectuais.

 

BIOGRAFIA DE CARL ORFF

 

Carl Orff nasceu em 10 de julho de 1895 em Munique Alemanha. È considerado um dos compositores mais destacados do século XX, sobretudo por sua obra Carmina Burana (https://ouvirmusica.com.br/carmina-burana/).Contudo foi como pedagogo musical, criador do método Orff, que ficou mais conhecido.

O método Orff é baseado no ritmo, no movimento e na improvisação. Infelizmente, Carl Orff não deixou escrito seu pensamento em relação de como deveria ser empregado seu método, o que dificulta o entendimento do mesmo. O material disponível para ser analisado a respeito da metodologia de Orff, é uma coletânea de cinco livros que faz referência as peças musicais para ser trabalhadas com alunos, mas não há referência de como Orff concebeu seu método.[…]” Essas fontes fornecem boa informação, pois a abordagem Orff encontrou grande aceitação em vários países da Europa e da América, sendo adotada por um grande número de escolas de Educação geral ou especializada em música”.(FONTERRADA,2008 p.159).

Carl Orff veio de uma família de alta burguesia alemã, muito ativa na vida militar. Começou seus estudos musicais na Academia de Música de Munique em 1914 e serviu as forças armadas durante a primeira guerra mundial. Em 1924, Orff começa a trabalhar como educador musical ao lado da amiga Dorothea Gunter. Os dois fundam a Gunter Schule, com a proposta de integrar música e movimento. O princípio que direcionava a escola era a mesma proposta idealizada por Dalcroze, que visava a integração do ritmo a música, através do corpo.

Para trabalhar com o ritmo, Carl Orff idealiza uma série de instrumentos de percussão que hoje são muito conhecidos, sendo também muito utilizado na musicalização infantil chamado de “instrumentos Orff”. […] “A ideia era que músicos e dançarinos trocassem de papeis entre si, de modo que todos pudessem tocar e dançar.”(FONTERRADA,2008.p.160)

O Trabalho de Orff é interrompido com a segunda guerra mundial. A escola que ele fundara foi completamente destruída devido a segunda guerra mundial. Com o fim da guerra, pouco a pouco o trabalho de Orff começa a se desenvolver. Orff começa elaborar um trabalho para atingir crianças pequenas. […] “A partir dessa idéia que Orff cria o conceito de “música elementar” isto é, uma música primordial que envolvesse fala, dança e movimento, partisse do ritmo e servisse de base à educação musical da primeira infância”. (FONTERRADA,2008 p.160)

A proposta metodológica de Orff é apresentada da seguinte forma: […] “Para Orff o ritmo é a base sobre a qual se assenta a melodia e, em sua proposta pedagógica, deveria provir do movimento, enquanto a melodia nasceria dos ritmos da fala” (FONTERRADA,2008, p.161)

Orff acreditava que a criança deveria ter uma educação musical dividida em pequenos estágios onde teria suas competências musicais desenvolvidas. A criança começaria a estudar o ritmo em pequenas melodias com fácil assimilação, assim como o emprego de rimas e parlendas e jogos infantis. Outra proposta pedagógica de Orff, é a prática da improvisação, que faria as crianças aprenderem a criar seus próprios ritmos e melodias.

 

Dentro da proposta, assumem importante papel as atividades de eco (repetir o que se ouviu) e pergunta e resposta (improvisar um segmento musical depois de ouvido um estímulo). Outra conduta bastante utilizada por ele são os ostinatti, figurações rítmicas ou melódicas repetidas, sobre as quais se podem improvisar vocalmente ou ao instrumento. (FONTERRADA .2008. p.161)

 

Um dos recursos pedagógicos do método Orff mais conhecido e praticado nas instituições de ensino seja regular ou de música, são os instrumentos de percussão criados por ele. Os instrumentos são formados por xilofone, metalofones, tambores, pratos, platinelas, pandeiros, maracas e flautas. A partir desses instrumentos, as crianças ainda pequenas, sem nenhuma experiência coma música, conseguem desenvolver a percepção visual, auditiva e a coordenação motora, além de conseguirem tocar pequenas melodias, o que estimula a tocar e apreciar a música.

 

BIOGRAFIA DE SHINICHI SUZUKI

 

Suzuki nasceu em 1898 em Nagoya, Japão. Era filho do dono da maior fábrica de instrumentos de cordas do Japão. Suzuki ainda criança brincava em meio aos instrumentos musicais e mais tarde passa a trabalhar na construção dos violinos.

Nancy Curry observa que:

 

As dez crianças e Suzuki viam a fábrica como se fosse um playground, e os violinos, brinquedos – até o dia em que o pai trouxe um gramofone, e eles puderam ouvir, pela primeira vez, o som do violino em uma gravação. Suzuki trouxe para casa um violino da fábrica determinado a encontrar aquele lindo som por ele mesmo. Ouvindo repetidamente a gravação e experimentando encontrar os mesmos sons no instrumento, aprendeu sozinho os princípios básicos de como tocar violino e, depois, teve um ano de lições do instrumento e teoria musical, em Tóquio. (CURRY,1998-1999,12apud FONTERRADA,2008p.165)

 

 

Suzuki aprendeu a tocar o violino só, como autodidata, mas queria aprofundar seus estudos musicais. Sua vontade de estudar música o leva a Alemanha, onde morou por oito anos. Nesse período pode aperfeiçoar seus estudos de violino.

Quando regressa ao Japão em 1928, Suzuki começa a ensinar violino no Conservatório Imperial. Até então, Suzuki era apenas um professor de violino. Foi quando em 1931,um senhor pede a Suzuki que ensine violino para seu filho de apenas quatro anos de idade. Como de costume nas escolas de música, o ensino de violino começa geralmente aos oito ou nove anos. Suzuki se viu apreensivo diante de um pedido que para ele parecia impossível. Foi quando teve uma ideia que modificaria sua vida. Ele concluiu que todas as crianças aprendem a sua língua materna apenas ouvindo a voz de seus pais. Isso poderia também acontecer com a música. Usar a repetição para poder tocar após ouvir várias vezes a música produzida pelo violino.

Após ter essa ideia, Suzuki começa a elaborar sua metodologia que é inspirada na observação de como as crianças aprendem a falar a sua língua materna e a comunicar com seus pais. Nesse pensamento: […]” Suzuki propõe que a música faça parte do meio da criança desde pequena, como ocorre com a língua materna, assim, ela aprenderá naturalmente”. (FONTERRADA.2008.p.167).

No seu método, Suzuki propõe que a criança antes de tocar, ouça muitas vezes a música que irá estudar, estimulando assim sua memória auditiva. No método Suzuki também é preciso a participação dos pais, que são responsáveis pela estimulação musical diariamente com seus filhos. Os pais são levados a também a estudar o instrumento. Assim as crianças imitam seus pais e também começa a tocar.

Para Suzuki, a criança só passa para a educação musical e teórica, quando já é capaz de ouvir e tocar a música no instrumento.

Suzuki também é a favor de incentivar a educação musical para todos, para uma formação de pessoas mais humanas.

O método Suzuki hoje é conhecido e adotado em vários países. No Brasil, vários professores e instituições de ensino musical adota o método que trabalha com instrumentos de corda com arco (Violino – Viola –Violoncelo), violão e piano.

Para Suzuki mais do que estimular talentos, o mais importante é educar com amor.

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A música faz parte do cotidiano de nossas vidas, mas a sua estrutura e formas de ensino são motivos de estudo. É uma linguagem não verbal que atinge todos os nossos sentidos.

 

O conteúdo da música só pode ser articulado através do som […]Não podemos definir música como algo que tem apenas conteúdo matemático, poético ou sensual. Trata-se de tudo isso e muito mais. Relaciona-se à condição humana, porque a música é escrita e executada por seres humanos que expressam seus pensamentos íntimos, sentimentos, impressões e observações.

Os métodos ativos que surgiram no século XIX, ainda são motivos de discussão quanto a sua forma de se apresentar e sua eficácia. Nas suas metodologias, que hoje são largamente difundidas, eles aplicam na prática elementos simples que podem ser adotados na escola para desenvolvimento intelectual dos alunos.

O pioneiro Dalcroze, propôs música feita a partir do movimento do corpo que é o nosso primeiro instrumento. Willems aborda que música primeiro deve ser ouvida e sentida, depois executada. Sua proposta fala da importância do som e de como absorvemos esse som.

Kodály, através do folclore mudou a história de um país. Em seu método ele faz a junção da cultura popular através do folclore com a música acadêmica.

Com Orff temos em seu método a marca do ritmo, que deve ser estimulado nas crianças. Ritmo esse que está dentro de nós mesmos. Com o método Suzuki, aprendemos que a memorização a repetição e a disciplina são elementos imprescindíveis para uma boa educação.

Os métodos musicais aqui citados devem ser trabalhados em sala de aula para auxiliar o desenvolvimento dos alunos através do conhecimento dos movimentos do nosso corpo e das funções do som que desenvolvem o emocional ajudando a compreender melhor as matérias e a socialização na escola. Para Fonterrada (2005) os métodos ativos devem ser estudados e repensados em sua colocação em sala de aula, observando a realidade do educando e educador para seu desenvolvimento “propostas educacionais adequadas à escola e à cultura brasileira” (FONTERRADA,2005, P. 108).

A proposta deste artigo é mostrar que as metodologias musicais devem ser estudadas pelos educadores musicais como forma de conhecimento e aprendizagem, sendo incorporados em sua prática pedagógica.

REFERÊNCIAS

BARENBOIM,Daniel. A música desperta o tempo.São Paulo: Martins Fontes.2009

 

BEYER, Ester. “A educação musical sob a perspectiva de uma construção teórica: uma análise histórica”. In: Fundamentos da Educação Musical Porto Alegre: Associação de Educação Musical, maio de 1993, p.5-25

 

BRÉSCIA, Vera Lúcia Pessagno. Educação Musical: bases psicológicas e ação preventiva. São Paulo: Átomo, 2003.

BRITO, Teca de Alencar. Música na Educação Infantil: propostas para a formação integral da criança, 2° edição, São Paulo: Editora Peirópolis, 2003.

 

CARMINA BURANA https://www.ouvirmusica.com.br/carmina-burana/ . Acesso em 10 de nov. 2019

 

FARIA, Marco Antonio. Canto Coral. Um estudo sobre a prática do canto na escola.Disponível em: http://tede.mackenzie.br/jspui/simple-search?query=http+tede.mackenzie.com.br+de_arquivos6TDE-2011-11-21T101349Z-1274PublicoMarcio%2520Antonio%2520+Faria.pdf+>Acesso em

10 de nov. 2019

 

FIGUEIREDO, Sérgio Luiz Ferreira de. A educação musical do século XX: os métodos tradicionais. p. 85 – 87. Revista: A música na Escola. Allucci & Associados Comunicações, São Paulo – 2012. Disponível em: >Acesso em

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Acesso em 10 de nov. 2019

 

ROCHA,Carmen Maria Metting. Educação Musical Método Willems,3ª edição,Salvador-Bahia.impresso no Brasil.www.musicaiem.com.br

 

Fernãnda Ribeiro Ferreira –  Graduada em Música pelo Conservatório Brasileiro de Música / Centro Universitário; Graduada  em Música; Graduada em História; Graduada em Pedagogia; Pós Grraduada  em Educação Musical e Ensino de Artes e  Pós Graduada em Musicalização infantil. Professora de música da Escola Arco Íris. Tem experiência na área de Artes, com ênfase em Música.

 

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