A Apropriação da Música pela Criança e a Importância da Educação Estética no Ensino Musical

Este trabalho leva o educador a repensar a educação musical de forma significativa a partir da vivência cultural da criança, analisando como se forma o gosto e a preferência musical do educando e busca conhecer como se dá a apropriação e fruição musical pelo aluno em contato com o meio social, com o objetivo de buscar  a sensibilização dos sentidos,a formação de indivíduos críticos por intermédio da apreciação, criação e práticas musicais, desenvolvendo o juízo estético e a compreensão da significação da música como objeto cultural. A Metodologia utilizada nesse artigo é a Pesquisa bibliográfica em livros, sites, revistas eletrônicas e artigos científicos de autores reconhecidos no meio acadêmico.

 

Palavras-chave: Apropriação musical. Vivência infantil. Educação musical. Identidade cultural.

 

 Introdução

Este artigo busca conhecer como se dá a apropriação da música pela criança e como forma o seu gosto musical,através influência do meio em que vive, refletindo como a educação musical pode contribuir para o desenvolvimento da sensibilidade estética e construção da identidade cultural do educando.

A música faz parte do cotidiano do cidadão e da sua cultura, nas cerimônias religiosas, cívicas e em diversos eventos sociais, é um instrumento poderoso que mexe com as emoções e sentimentos de crianças e adultos.A criança vivencia a música desde seu nascimento, assim como seu desenvolvimento sensorial com o meio, no sussurrar da mãe, nas cantigas de ninar,nas brincadeiras cantadas e no decorrer de sua vivência. A definição da palavra música,vai muito além da arte de combinar os sons, ela também é ludicidade, afetividade, expressividade, sensibilidade e emoção.

Este argumento justifica a importância da música na vida do ser humano, sendo essencial trabalhar a educação musical desde muito cedo em casa com a família e na escola.Durante a minha prática como professora de música senti a necessidade de entender melhor como ocorre a significação e apropriação da música pela criança, em seu ambiente familiar, escolar e em todos os lugares, e ainda, a dificuldade que o professor encontra na escolha do repertório musical para trabalhar com os alunos em sala de aula, tanto na musicalização quanto na iniciação ao instrumento, na escola de música ou escola normal por vários motivos específicos.

O objetivo deste estudo é entender melhor esse processo e o que pode ser feito para que a música seja trabalhada de maneira saudável e construtiva no ensino aprendizagem de forma prazerosa, formando indivíduos críticos que compreendam a significação da música como objeto cultural e desenvolvam o juízo estético, começando com a criança nos primeiros anos de idade até a vida adulta, pois todo patrimônio cultural vivenciado é construído em diferentes fases de sua interação com o meio social. A problemática a ser solucionada nos traz questões que vão nortear o trabalho dos professores especialistas ou generalistas, que vão contribuir com a reflexão deste estudo:

  • Como se forma o gosto musical e a preferência das crianças.
  • As influências da família, da escola e da cultura midiática e suas tecnologias.
  • A música como linguagem artística, sensibilização estética e formação da identidade cultural do educando.

Vivemos num mundo informatizado e tecnológico, onde a mídia dita regras de beleza, moda, comida, entretenimento, etc., não fica de fora a cultura musical, que através da repetição condiciona o gosto e a preferência do ouvinte, adestrando a percepção e escuta dos receptores. Maria José Dozza Subtil(2006, 2011), realizou pesquisas empíricas com crianças e jovens de escolas públicas e particulares, escreveu vários artigos em revista, livro e teses com o objetivo de entender como adquirem experiências com os objetos midiáticos, abordando a influência e a predominância da mídia sobre o gosto musical desses alunos, fazendo uma reflexão entre a emissão (mídia) e a recepção (criança).

A criança tende a reproduzir aquilo que vê e escuta, formando hábitos que irão fazer parte de sua vida, aprendemos com pesquisadores como Piaget, Wallon, Vigotsky e outros, que o homem é um ser social e a construção do conhecimento é gradual, dessa forma a criança pode adquirir gosto pela música como objeto cultural, a partir do que é experienciado, ou seja, boa parte da preferência musical de jovens e adultos foi graças aquilo que fez parte da sua infância, tudo o que vivenciar através dos sentidos, será absorvido e fará parte do seu repertório musical.

A Metodologia utilizada nesse artigo é a Pesquisa bibliográfica em livros, sites, revistas eletrônicas e artigos científicos de autores reconhecidos. Este tema já foi abordado por muitos estudiosos, como Maria José Dozza Subtil, Cristina M. E. C. J. de Camargo, Mônica de Almeida Duarte e muitos outros mestres em educação, preocupados com o desenvolvimento integral do educando e uma eficiente educação musical, fundamentando-se em musicólogos e filósofos como Theodor Wiesengrund Adorno, Max Horkheimer, Néstor García Canclini, Walter Benjamim, G. A Snyders, e muitos outros.

 

 Desenvolvimento  

O professor de musicalização infantil ou iniciação ao instrumento musical, muitas vezes encontra dificuldades na escolha do repertório musical para trabalhar com as crianças em sala de aula, conhecemos escolas de educação infantil que mostraram certo preconceito a alguns estilos de músicas infantis, artistas, marcas ou mesmo a música midiática e também crianças resistentes em trabalhar com cantigas infantis ou folclóricas, de qualquer forma o professor sempre preocupa-se em utilizar um repertório de músicas observando os elementos rítmico/melódico e a letra que as constituem, que sejam adequadas a idade da criança e ao objetivo da atividade e por conseguinte,muitas vezes esquecemos de pensar ou investigar o gosto musical do aluno.

 

  1. O gosto musical das crianças e a influência da mídia.

Segundo Subtil (2007),a maior responsável pela cultura musical nos dias atuais é a mídia, vivenciada através da televisão em programas de auditório, novela, desenho animado, filme, da internet em tablet, computador e celular, tendo papel preponderante na fruição e consumo musical, mesmo das crianças mais pequenas. Com todas essas novidades e mistura de estilos musicais, as crianças também se encantam com canções e trilhas sonoras dos jogoseletrônicos,que segundo o Wikipédia é chamado chiptune ou VGM, música que antes era criada só em computadores, mas hoje já é produzida com instrumentos acústicos, como exemplos, o minecraft, megalovania, Five Nights, etc.

No processo de socialização, o papel das mídias também interfere nas formas de aproximação dos sujeitos aos objetos da cultura. Babin; Kouloumdjian (1982) e Belloni (1995), entre outros, consideram que a cultura do som, da imagem e dos meios eletrônicos impregna os modos de experimentar e conhecer o mundo. McLuhan (1989) constata o envolvimento profundo e sensorial com os meios, chegando a afirmar que o meio é a mensagem. Kerkhove (1997, p.43) diz que a televisão produz um efeito de “sentido pressentido”, isto é, fala primeiro ao corpo, provocando uma antecipação sensorial do significado que será atribuído mais tarde. Essas novas formas de apreensão calcadas nos sentidos vão interferir na aprendizagem formal vivenciada na escola. (SUBTIL 2011, p.183).

 

De acordo com Subtil (2007) “na sociedade midiática não há delimitação de tipos de música para as diferentes idades ou um gosto musical distintivo de classe social”, quando fala em fruição estética, “gosto” ou ao “bom gosto”, cita as observações de Canclini (1984, p. 12) e enfatiza que o estético “é um modo de relação dos homens com os objetos, cujas características variam segundo as culturas, os modos de produção e as classes sociais […]”.

Um exemplo de influência midiática na televisão é o estilo funk tocado no quadro ‘Funkeirinhos’ do ‘Programa Raul Gil’, exibido nas tardes de sábado do SBT na TV ‘aberta’,a despeito de ser dirigida a adultos é consumida pelo público infantil e mesmo reprovado por muitos, ainda continua no ar sugestionando outras crianças,foi publicado no site Revista Cifras a matéria com o tema“Quadro do programa Raul Gil é criticado por sexualizar crianças”,

A sensualidade e o duplo sentido, elementos típicos desse estilo musical, causam estranhamento ao público que assiste ao ‘Funkeirinhos’. Vestidas como funkeiras, as crianças dançam e cantam músicas ousadas. Alguns internautas se manifestaram contra o quadro, pois acreditam que há sexualização infantil nele. O foco principal das críticas está na maneira como as crianças foram induzidas a dançar e o fato de as letras não serem condizentes com as idades delas, além de o programa exibir as meninas de maneira “adulta demais”. […] É o apocalipse da infância, cara”, comentou uma das internautas se referindo à música ‘Amar, amei’, do MC Don Juan. VILELA,REVISTA CIFRAS, 15 JUL 2019.

De acordo com Camargo (2015), quando a criança é exposta a uma situação passiva e recorrente de uma canção e de seu movimento, isso acaba por moldá-la, acostumando-a aquele tipo de timbre, volume e pulsação. A musicóloga faz uma reflexão sobre a influência midiática, e aponta uma destramento na percepção e construção dos sentidos,enfatiza que,a repetição e imitação caminham ao reconhecimento e o reconhecimento a aceitação. A música como entretenimento não exige esforço de atenção e concentração que é essencial para a apreciação de uma obra de arte.

Por outro lado, a indústria cultural utiliza-se de vários artifícios para ganhar mais consumidores, oferecendo músicas dançantes, de divertimento e distração, por isso Camargo (2015)ressalta a necessidade do cidadão se libertar do amortecimento de suas percepções, munidos de um espírito crítico e reflexivo. Na sociedade industrializada a música e a fantasia infantil são pré-dirigidas por objetos e experiências prontas e atinge a criança interferindo na formação do gosto e futuro juízo estético.

Mônica de Almeida Duarte (MÚSICA NA ESCOLA, SESC 2015, p.104) realizou um estudo sobre as trilhas sonoras infantis, definindo o conceito de mídia como cultura e patrimônio sonoro, nos fazendo pensar em como a música é usada para dar significação ao objeto que está sendo veiculado ao público infantil.

Busquei saber como pensar o processo pelo qual algo é definido como significativo para alguém. Que materiais devem ser utilizados no processo de ensino para que este seja significativo para as crianças? (DUARTE, 2004). No caso do ensino é necessário estabelecer e partir de um acordo sobre o que é musical para as pessoas envolvidas no processo pedagógico (DUARTE, 2004) apud (MÚSICA NA ESCOLA, SESC 2015, p.108.)

Portanto é preciso identificar os conteúdos simbólicos veiculados pelos meios de comunicação social, que faz parte do cotidiano do aluno, tanto a música em si como tudo que faz parte da paisagem sonora, no qual não se deve ser ignorado na escola e na educação infantil.

 

1.1. A influência dos pais na preferência musical dos filhos.

Os pais e o meio familiar têm grande responsabilidade na formação da cultura musical dos filhos, as crianças gostam de estar junto em família e participar da conversa dos pais, dos irmãos e acabam por apreciar a mesma música que todos ouvem e cantam, ainda que involuntariamente. De acordo com Subtil (2011), a criança passa por um processo de socialização dos grupos sociais e o papel das mídias interfere na interação do sujeito e os objetos da cultura. “Diversas instituições são responsáveis por essa socialização: a família, a escola e a igreja são as mais tradicionais e ensinam os valores, a cultura e as ideias válidas num determinado tempo e espaço histórico. ”(SUBTIL, 2011, p. 183).

Nos dias atuais percebemos que as crianças conhecem menos cantigas infantis ou folclóricas e estão cada vez mais consumindo música dos adultos com letras e movimentos de cunho sexual, em casa e nos grupos sociais, vivenciam através dos estímulos corporais, e acabam pegando gosto através da repetição. As músicas tocadas no Youtube e Netflix por exemplo, fazem parte da rotina dos pequenos, ouvem através dos desenhos, aplicativos e tutoriais infantis que a própria mãe oferece no celular ou tablet, para entreter a criança enquanto se ocupa com seus afazeres, crescem sabendo usar aparelhos eletrônicos com mais eficiência do que os adultos, e na maioria das vezes viciam nos jogos eletrônicos, a mercê do que a internet pode oferecer para o bem ou para o mal, que muitas vezes passa desapercebido pelos pais e responsáveis .

A Revista Crescer da Globo.com publicou uma pesquisa com 10 mil pais, que ao perguntar sobre gêneros musicais, descobriu que as preferências dos pais influenciam seus filhos até os 10 anos de idade. Citou o pesquisador de música Hauke Egermann da Universidade de York, na Inglaterra, que enfatizou os benefícios para a criança quando vivencia variados gêneros musicais, contribuindo com o desenvolvimento sócio afetivo, a linguagem e acesso a gostos musicais de diferentes culturas.

“As crianças têm uma ‘abertura’ para novas músicas, e isso significa que os pais têm um papel importante a desempenhar no desenvolvimento dos gostos musicais de seus filhos. Ao apresentar às crianças a uma variedade de gêneros antes deste período crítico, eles vão desfrutar de muitos tipos diferentes de música quando adultos”, explicou Hauke. (CRESCER ONLINE, 16 DEZ 2018.)

Como influenciar seu filho de forma saudável? É a pergunta pertinente desta publicação, as crianças crescem ouvindo o que os pais ouvem, e além de interagirem com o movimento das músicas através das pulsações, do ritmos e melodias, atribuem significados, lembranças e sentimentos aos momentos vivenciados. Muitos alunos gostam do estilo sertanejo porque sempre ouviram através dos pais no convívio familiar ainda que indiretamente, outros gostam de determinada música porque lhes traz lembranças prazerosas, quando ouviu com os pais em um passeio de carro. A Revista Crescer, ainda enfatiza que a melhor forma dos pais influenciar em seus filhos é criar oportunidades musicais e memórias felizes juntos, outra publicação da revista dá dicas com o educador musical Fábio Freire, de como criar um repertório musical rico e variado, “defende que é papel do adulto estar aberto, sem preconceitos, para apresentar diferentes estilos de sons aos pequenos (…) Cabe aos pais a função de mostrar o novo, mas forçar o filho a curtir é ruim. ”

É importante que os pais se interessem pelo universo cultural dos filhos e junto a escola, aprendam a oferecer um repertório musical de qualidade com diferentes estilos e ritmos, buscando a sensibilização na formação do gosto musical da criança, respeitando a infância, a brincadeira e o lúdico.

  1. A música na escola e o trabalho do educador.

Nas escolas de ensino regular, a música faz parte do currículo em artes, é usada como recurso didático, em datas comemorativas, para condicionar as crianças em sua rotina escolar e em muitos outros momentos, apesar de toda essa interação do aluno com a música, é submetido a uma constante situação passiva que segundo Camargo (2015), define como alienação à valorização da música enquanto linguagem, chamado por ela como adestramento sensorial e estético.

Com vivências sensoriais cada vez mais pré digeridas, controladas e padronizadas, e com a ausência de um ensino regular que inclua uma sensibilização e uma formação em arte enquanto área do conhecimento, a sociedade industrializada está criando consumidores adestrados e dependentes da tecnologia ao invés de seres humanos dotados de sensibilidade, capacidade de escolha e de avaliação, senso crítico, adaptação e invenção. (CAMARGO 2015, p.275)

Para Subtil(2007)a escola deve travar um jogo dialético com a mídia e indústria cultural consideradas indutoras de gosto, mas também socializadora dos objetos musicais, afirma ainda que não se pode negar as potencialidades desses objetos técnicos em especial a TV na produção de símbolos e conceitos para o público infantil e adulto. “Assim, no que concerne às músicas da mídia, o consumo é também determinado pelos mecanismos psicológicos, emocionais e fisiológicos do receptor que interagem nos atos de ouvir, dançar e cantar” (SUBTIL, 2007). Considerando essa reflexão, sem uma boa educação musical na escola, o indivíduo será condicionado ao controle e como Camargo (2015) cita em seu artigo “auto- sedução dos sentidos”, através da repetição da música massiva dos meios de comunicação e a mercê do interesse da indústria cultural. A escola não pode alienar-se dos meios tecnológicos dessa sociedade capitalista, é preciso entender que as informações contemporâneas são midiatizadas pelos meios de massa e reforça a hegemonia da classe dominante.

Assim como os alunos os professores também são consumidores e podem ser sugestionados pela mídia, por isso é relevante a construção de uma teoria crítica da arte como mercadoria, havendo necessidade de uma experiência de valoração da apreciação musical através dos gostos espontâneos. Nesse mesmo viés, Subtil (2007) cita Snyders (1992, p. 6, grifo do autor)que,

[…] apregoa a necessidade de guiar os estudantes rumo ao conhecimento musical “de alto nível” a partir da posse tanto “de suas culturas primeiras (adquiridas nas vivências cotidianas, diretas, simples), quanto das culturas de massa (assimiladas nas experiências com as mídias, com os meios de comunicação contemporâneos) ”. (SNYDERS, 1992, apud SUBTIL, 2007)

Mônica de Almeida Duarte uma das escritoras do livro MÚSICA NA ESCOLA (SESC 2015, pag. 108), fala como a prática musical é influenciada pelo pensamento e ações das pessoas.  Com esse raciocínio a autora pergunta o que os profissionais da educação podem fazer perante as práticas sonoras tão diversas que existem ao nosso redor, entre pessoas de grupos sociais tão diferentes, e a resposta que encontra para essa reflexão é buscar a mediação cultural, que estimula a experimentação artística e a aproximação a distintas culturas musicais.

A mediação cultural como um “estar entre muitos” (MARTINS et al., 2008) pressupõe a atuação do mediador entre os materiais do patrimônio cultural, considerados artísticos ou não pelas pessoas de diferentes grupos sociais; as conexões estabelecidas com outros materiais; os lugares em que encontramos esses materiais(instituição cultural), as pessoas que articulam os diversos momentos ou etapas de produção dos materiais do patrimônio cultural, a mídia, os teóricos que interpreta me contextualizam esses materiais; a escola e os demais professores; nós mesmos,“também repletos de outros dentro de nós, como vozes internas que fazem parte de nosso repertório pessoal e cultural” (MARTINS, 2006 apud MARTINS et al. 2008, p. 25) (apud DUARTE, MUSICA NA ESCOLA SESC 2015).

Subtil (2007), enfatiza que o sentido da comunicação se constrói a partir do processo da emissão e recepção, que se dá através do cotidiano cheio das vivências individuais e da interação com diferentes objetos culturais e suas interpretações. Diante disso a pesquisadora defende a escolarização da música veiculada pela mídia, através de um trabalho consciente e fundamentado, repensando a prática musical escolar, ultrapassando os limites das tradicionais comemorações escolares com músicas repetitivas e sem sentido estético. A pesquisadora ainda enfatiza que “ o processo de aquisição e produção de conhecimentos musicais requer propostas e atividades mais complexas por parte dos professores do que apenas dublar canções midiáticas (Subtil, 2003) ” (SUBTIL, 2007), ou então reduzir o ensino infantil apenas a canções folclóricas, limitando os alunos a um determinado estilo ou cultura isolada. A formação do professor especialista ou não, é alvo de grande discussão, pois devem ser preparados para lidar com a música midiática e os diferentes gêneros musicais, sem desprezar as músicas que fazem parte da vivência dos alunos.

Para Camargo (2015), a reinserção da disciplina de música no ensino regular é essencial para compreensão da história da música e da arte, e o educador com uma postura crítica pode ajudar na criação de bons hábitos de audição e diversificação do gosto musical do educando, preparando-o para o desenvolvimento futuro do seu juízo estético.

A escola é considerada como mediadora de conhecimentos e também é responsável pela construção do conhecimento musical como objeto cultural e artístico, a música não deve ser vista apenas como instrumento de lazer ou recursos didáticos no ensino aprendizagem, mas como todas as outras linguagens e forma poderosa de comunicação e expressão humana. É através da educação que o indivíduo será capaz de ouvir e interpretar o seu significado de forma ativa e reflexiva.

 

Considerações finais

A educação infantil é a base para a educação escolar e os pais junto a escola e os professores podem começar a trabalhar a diversidade musical com as crianças desde pequeninas, e com a musicalização infantil na idade pré-escolar e a educação musical no ensino regular, terão oportunidade de interagir com diferentes tipos de sons e timbres através da pratica musical, como resultado o sujeito terá muito mais chances de interagir com diferentes tipos de culturas e reconhecer a sua própria identidade cultural, além de desenvolver a sensibilidade e “o bom gosto musical” que Subtil (2007) se refere como fruição estética.

Uma das escritoras do livro MÚSICA NA ESCOLA (SESC 2015, p.170),Amanda Lopes Sampaio relata que,

Graças à tecnologia, a música deixou de ser um prazer para poucos (no século 16 e 17, por exemplo, somente alguns privilegiados poderiam ter acesso às peças de grandes músicos como Beethoven e Mozart). Com a invenção do fonógrafo e, posteriormente, do disco de vinil, houve uma democratização da música e, sendo assim, todos poderiam ter acesso às obras independentemente de classe social.MÚSICA NA ESCOLA (SESC 2015, p. 170)

Neste mundo de novas tecnologias a sociedade tem maior acesso à internet e novos meios de comunicação, consequentemente à cultura musical, às diversas formas de expressão artística e a uma pluralidade de significados. Com este grande avanço da tecnologia Amanda Lopes Sampaio do MÚSICA NA ESCOLA (SESC 2015, p. 170), ainda enfatiza com a citação de (BENJAMIN, 1996)que a reprodutividade técnica favoreceu a massificação da arte e da estética, prevalecendo a hegemonia da indústria cultural e do consumismo.Infelizmente nem sempre nos deparamos com conteúdo saudável e construtivo ao público infantil e mesmo ao adulto, para isso é preciso um filtro estético do conhecimento e da sensibilidade para reconhecermos a diversidade musical e cultural, que só conseguimos através da educação.

Para a musicóloga Cristina Camargo (2015), ouvir é um ato involuntário, mas o modo como se ouve é particular, constituindo-se na interpretação peculiar do ser humano, por isso o educador deve trabalhar de forma significativa, respeitando o gosto diversificado das crianças, para que desenvolvam o senso estético e mais que isso, adquiram pensamento crítico e sejam capazes de ouvir, escutar e interpretar aquilo que faz parte da sua vivência e também o que ainda será experienciado.

Assim como Maria J. D. Subtil, Cristina M. E. C. J. Camargo, educadores e especialistas do livro (Musica na escola SESC 2015) e outros pesquisadores do assunto aqui citados, concordam que,assim como toda expressão artística do homem, a música deve ser trabalhada como linguagem no ensino aprendizagem e como objeto cultural que faz parte da identidade do ser humano.O universo musical da criança deve ser ampliado, onde ela mesma possa refletir, criticar e avaliar suas próprias escolhas. Quanto mais repertórios os sujeitos conhecerem mais chances de escolhas terão.

Cabe distribuir a todos o patrimônio musical (erudito, popular, folclórico, ou como se queira denominar), construído em diferentes tempos e contextos sociais, mas ainda presentes na história e no padrão do que se ouve canta e consome no Brasil. A humanização dos sentidos e a educação musical são tarefas para a escola, também.(SUBTIL, 2007,

A música faz parte do patrimônio cultural e deve ser compreendida como tal, o educador precisa se libertar do preconceito elitista e da padronização musical, abertos a diversidade de gêneros, trabalhando o erudito ou o popular, o folclore ou a música midiática e outros estilos construídos com a midiatização e a indústria cultural, chamados pelos filósofos de hibridação cultural.

É imprescindível que a escola introduza a música que é algo nato do ser humano e a educação musical com mais responsabilidade e agregue aos outros saberes. Assim como o livro “MÚSICA NA ESCOLA (SESC 2015) ” felizmente encontramos projetos que constroem seus princípios com base na abordagem triangular de Ana Mae Barbosa: o fazer musical através da experimentação e prática musical, a fruição por meio da apreciação em diferentes gêneros de obras musicais, a contextualização contemporânea, mediante a um pensamento crítico às hegemonias culturais e a valorização e resgate da cultura popular e suas tradições.O livro da pesquisadora Maria José Dozza Subtil “Música midiática & o gosto musical das crianças” é resultado de suas teses de doutorado em Engenharia da Produção apresentada à Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), que muito contribuiu para o estudo desse artigo e para futuras reflexões.

Baseando-nos nos estudos e fundamentação teórica/prática desses pesquisadores, mediante a problemática que nós educadores encontramos em nossa realidade, no qual sentimos a necessidade de compreender como se forma o gosto musical,  se inteirar do que a criança consomem e intervir no seu universo musical de maneira significativa, concluímos que não temos uma “receita pronta”, mas podemos nos reciclar, buscar novos conceitos e educar nossos próprios sentidos, através de uma criteriosa e permanente análise entre os conhecimentos cotidianos provenientes da mídia, os que acontecem no contexto escolar e na vivência com os pais e familiares.

Podemos ser mediadores e junto com os alunos ampliarmos nosso repertório musical, estimulando-os a construírem uma experiência estética significativa, a serem apreciadores ativos, co-produtores do fazer musical e conscientes da diversidade cultural que estão inseridos, contribuindo para a humanização dos sentidos do cidadão e da sociedade.

 

 

 

Referências

Camargo, Cristina Moura Emboaba da Costa Julião de. Ouvir é escutar?Revista da Tulha, Ribeirão Preto, SP, v. 1, n. 1, p. 264-277, jan. -jun. 2015.Disponível em: http://www.revistas.usp.br/revistadatulha/article/view/107707. Acesso em: 25 fev. 2019.

 

Duarte, Mônica de Almeida. A música dos professores de música: representação social da “música de qualidade” na categorização de repertório musical. Revista da ABEM, v.19, n. 26, Londrina: Associação Brasileira de Educação Musical, jul/dez 2011. pag. 60, 2014. Disponível em: <http://www.abemeducacaomusical.com.br/revistas/revistaabem/index.php/revistaabem/article/view/174>. Acesso em: 08 Dec. 2019.

 

Escola, Música Na:Caminhos e possibilidades para a educação básica. – Rio de Janeiro: Sesc, Departamento Nacional, 2015.380 p.: 23 cm. – (Educação em rede; v. 4).Disponível em: http://www.sesc.com.br/portal/publicacoes/sesc/livros/educacao+em+rede/educacao+em+rede-+vol+4 . Acesso em: 25 fev. 2019.

 

Online, Revista Crescer. É possível influenciar o gosto musical dos filhos, mas só até certa idade. Saiba qual. Disponível em: https://revistacrescer.globo.com/Curiosidades/noticia/2018/12/e-possivel-influenciar-o-gosto-musical-dos-filhos-mas-so-ate-certa-idade-saiba-qual.html Acesso em 25 fev. 2019.

OnLine, Revista Crescer, 6 dicas para criar um rico repertório musical com seu filho, 09 SET 2019 .Disponível em: https://revistacrescer.globo.com/Diversao/Musica/noticia/2019/09/6-dicas-para-criar-um-rico-repertorio-musical-com-seu-filho.html Acesso em 12 de novembro de 2019.

 

Subtil, Maria José Dozza. Mídias, músicas e escola: a articulação necessária. Revista da ABEM, Porto Alegre, V. 16, 75-82, mar.2007.Disponível em: http://abemeducacaomusical.com.br/revista_abem/ed16/revista16_artigo9.pdfAcesso em: 25 fev. 2019.

 

Subtil, Maria José Dozza. Apropriação e fruição da música midiática por crianças de quarta série do ensino fundamental. 2003. Tese. (Doutorado em Engenharia de Produção)–Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2003. 227 f.

Subtil, Maria José Dozza. Músicas, mídias e escola: relações e contradições evidenciadas por crianças e adolescentes. ISSN 0104-4060 Educar em Revista. [online]. Editora UFPR. Curitiba, Brasil, n. 40, p. 177-194, abr./jun. 2011. Disponível em:http://dx.doi.org/10.1590/S0104-40602011000200012. Acesso em: 25 fev. 2019.

Vilela, Maysa,Funkeirinhos: Quadro do Programa Raul Gil é criticado por sexualizar crianças,RevistaCifras, 15 Jul2019 , Disponível em: https://revista.cifras.com.br/noticia/funkeirinhos-raul-gil-criticas  .Acesso em: 23 nov. 2019.

 

Elaine da Silva Cicilini – Graduação com licenciatura plena em  com ênfase no violão;  Graduada em Artes Visuais com licenciatura plena ; Pós Graduada em Musicalização Infantil; Graduada  em Psicopedagogia; Cursos livres e de extensão em Violão, Violino, Canto Básico e Técnica vocal; Professora Voluntária na Escola Livre de Música da OFARDERP/IEADERP ; Leciona em Escolas de Música e particular há tempos como professora de canto, violão, violino, ukulelê e musicalização infantil;  Atua como Backing Vocal  em estúdios de gravação e eventos musicais.

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